"Elas ainda gastam mais do dobro do tempo em tarefas domésticas do que eles"
in Público, 19/11/2015
Como se sabe, a dita "normalidade" é pródiga num tolerado bestiário de injustiças e monstruosidades, muitas delas herdadas da santa tradição, no caso português, amassadas, fermentadas, enrobustecidas ao longo de séculos da Santa Inquisição e decénios de Estado Novo. Ah! Não esquecendo o mais recente contributo de Cavaco Silva e sua Maria, político que, no dizer dos psicanalistas desbocados como Carlos Amaral Dias, foi dos que mais beneficiou de uma colagem imagética a Salazar, transformando-se numa serôdia âncora de tempos idos a calcar o juízo dos contemporâneos.
Esta é uma das faces mais óbvias do desprezível marialvismo lusitano, o jugo persistente que as mulheres se acham obrigadas, muitas delas censurando ainda, como é pertença de frequentes cenas burlescas do nosso quotidiano, outras mulheres que não se subjugam e se atrevem a não lavar a loiça, a por os chinelos ao jeito ou a vincar as calças de sua excelência parasítica.
E vocês, caras colegas professoras, o que pensam e fazem no que concerne a isto? Infelizmente, pelo que vejo, não haverá lá muitos exemplos de professoras a assumirem ao peito e a dizer aos seus companheiros "vai trabalhar malandro".
Era bom que o fizessem, a bem do exemplo, e fizessem força, lá nas escolas, para que o tema da igualdade de género não saísse, nunca mais, do horizonte.
Porque, aceitar qualquer forma de opressão, é, também, base e estrutura para encaixar outras, assentes em diferenças que não as legitimam de todo.
João Correia