Artigo:Eduarda Dionísio

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Eduarda Dionísio

Folheio o jornal “Público” de hoje, à procura de alguma notícia sobre educação, sobre a situação no ensino, sobre as lutas dos professores… sabendo que vou esbarrar com a última polémica saída da cartola das “notícias importantes” que absorvem a atenção do povo, para não verem o essencial.

Na secção Local do jornal, uma notícia de página inteira com uma fotografia da entrada da Escola Preparatória de Eugénio dos Santos titula “Escola em Alvalade carece de obras urgentes mas não há planos para as fazer” e em subtítulo “Um relatório da Protecção Civil, que se soma a um estudo do LNEC sobre a Eugénio dos Santos , aconselha a uma intervenção rápida. Mas nem câmara nem ministério indicam que assim acontecerá.” Este fatalismo, este passa-culpas, este pingue-pongue de atirar a bola para o outro, este alijar de responsabilidades tão persistente, esta modorra, este cansaço já cansam. A notícia da responsabilidade da jornalista Maria José Coelho refere que a escola tem mais de 70 anos e é um dos 26 estabelecimentos de ensino apontados como prioritários para obras de requalificação pela Câmara de Lisboa e pelo Ministério da Educação. Frio, infiltrações, vigamentos de madeira apodrecidos, dificuldades de escoamento pluvial pela existência de vegetação rasteira no beirado e cobertura, escassa manutenção dos espaços verdes, telhas soltas, risco de colapso iminente… a lista é longa e é neste ambiente que trabalham, estudam e crescem 830 alunos, professores e funcionários desta escola de Lisboa.

Continuo a folhear o jornal à espera de uma nota sobre o falecimento, ontem, de Eduarda Dionísio. Merecia uma nota biográfica, uma referência mínima, mas não, infelizmente não. Com efeito, ela nunca foi mediática, sempre recusou holofotes, não por ser pequenina, mas por ser grande. Escritora, mulher da cultura no seu mais nobre sentido, mulher de esquerda, professora, antiga dirigente do SPGL, divulgadora do legado do seu pai Mário Dionísio e coração que tem feito palpitar a Casa da Achada desde a sua fundação em 2008, Eduarda Dionísio sempre foi inconformada, inconformista, avessa à modorra, à mediocridade e ao fatalismo.

Pessoas como a Eduarda Dionísio fazem-nos falta. Por tudo o que fez dela sempre uma grande mulher.

Almerinda Bento