Artigo:É substituir a força da razão pela razão da força

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É substituir a força da razão pela razão da força

João Cruz
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DESI SPGL |

A missão dos sindicatos abarca a intervenção cívica na defesa de ideais e princípios que se afigurem importantes para o contexto onde trabalham e vivem os seus associados. Foi com este dever cívico e ético que o SPGL tomou posição sobre chamar a polícia para expulsar estudantes das Faculdades quando estes se encontram a realizar protestos sobre questões que os preocupam. Não se tratam de manifestações violentas nem de atos de vandalismo dirigidos contra o património das escolas. Não existem vestígios nem testemunhos credíveis de violência ou danos produzidos pelos manifestantes. É certo que todos os protestos acarretam sempre algum incómodo para quem com eles se cruza. É a natureza e mecânica própria do protesto.

Expulsar pela força física da polícia os estudantes não violentos é um ato de impedimento da exposição e discussão das ideias que motivam a sua manifestação. É substituir a força da razão pela razão da força. É destratar os estudantes com a prepotência. Especialmente triste é que isto seja uma prática ressurgente nas Faculdades, em 2024, e que possa estar a ser banalizado antes de ser alargado a outros âmbitos. Igualmente penoso é assistir ao exercício de contorcionismo e efabulação argumentativa de quem chama a polícia para varrer os corredores.

Outra obrigação cívica que se impôs recentemente aos sindicatos da FENPROF foi a de apelar, em carta aberta, aos Reitores e Presidentes dos Institutos Politécnicos portugueses para abandonarem a sua posição de testemunha apática relativamente ao massacre civil em curso na Palestina. Um massacre que, além as comunidades universitárias e suas famílias, inclui a destruição plena das Universidades Palestinianas. 

As Universidades e Politécnicos portugueses ocupam um lugar central para mobilizar a atenção, se não mesmo a censura, da população portuguesa para a chacina em curso. Podem implementar embargos e sanções a entidades suas congéneres ou suas parceiras que cooperam com a chacina, ou que a facilitam pelo seu silêncio. Podem fazer declarações políticas através das associações internacionais a que pertencem. E ainda têm o poder para montar de imediato esquemas próprios de acolhimento para estudantes e académicos palestinianos que cheguem a Portugal fugindo do massacre, à semelhança do que foi bem implementado para os refugiados Ucranianos.

Não é aceitável deixar formar-se a ideia de que a cor da pele ou a origem geográfica das vítimas ainda determina uma dualidade de pesos e medidas por parte das nossas Universidades e Politécnicos.

Texto original publicado no Escola/Informação n.º 308 | maio/junho 2024