Artigo:E quando não houver professores para as nossas escolas?

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E quando não houver professores para as nossas escolas?

A pergunta impõe-se e se o governo continua cego, surdo e mudo não é por falta de alertas. Os jornais ultimamente têm trazido com insistência o problema do envelhecimento da classe docente, a falta de professores em certos grupos de recrutamento e em certas regiões e até o Conselho Nacional de Educação está preocupado com o futuro das nossas escolas.

No “Público” de dia 25 de Novembro, na secção da Sociedade/Educação, num artigo de meia página com o título “Até 2030 quase 60% dos profesores vão reformar-se”, a jornalista Natália Faria dá conta que, actualmente, entre os professores, metade têm 50 ou mais anos, que apenas 1,1% se situam abaixo dos 35 anos e que os alunos inscritos em cursos para a docência caíram para metade. Em recente artigo na Notícia do Dia assinada por Manuel Micaelo, ele referia o elevado número de professores a aposentarem-se este ano (1409 segundo dados da CGA) e a previsão de 12.329 até 2023.

O Parlamento pediu um estudo ao Conselho Nacional da Educação que revelou a profunda insatisfação da classe docente com as condições que lhe são dadas e a exaustão generalizada daí decorrente, sobretudo entre os professores mais velhos, para além de a profissão não ter atractivos que permitam a inversão da situação, o que fica bem patente nos baixíssimos números de candidatos a cursos que dêem acesso à docência. A forma como os governos têm tratado milhares de professores que viram a sua carreira bloqueada e o tempo de serviço não contabilizado, como se não tivesse existido, são sinais de alarme para quem ainda pensa(va) em tirar um curso para a docência. Se a precariedade e a instabilidade são a norma, se actualmente, numa profissão com 10 escalões atingir o topo da carreira é uma miragem (actualmente só 0,02% dos professores portugueses estão no 10º escalão) e 58,4% se encontram nos primeiros quatro escalões, fica claro que não vai haver rejuvenescimento da classe docente.

Os números não enganam e não é preciso ser-se um especialista para perceber que o sistema está a caminhar para o colapso. O Ministério da Educação, face aos alertas do CNE, diz que está a analisar a situação para identificar as necessidades por grupo de recrutamento e por região, mas quanto a nós já vai tarde e não mostra sinais de querer reverter a siuação. Na Saúde, passa-se o mesmo.

Quando já há anos se falava dos riscos dos cortes e do abandono do investimento dos serviços públicos, não era alarmismo. Era um imperativo ético de defesa do Estado Social.

Almerinda Bento