É a amostra PISA que está errada ou a realidade que se alterou?
Este é o título de um bom artigo assinado por Isabel Flores no Público de 20 de janeiro (pg.19), que poderia ter por título “pedagogicamente o privado não é melhor que o público”. Porque é isso que objetivamente se pode concluir do texto desta investigadora do IPPS-ISCTE. A autora parte de um dado intrigante e inesperado:” entre 2015 e 2018 os resultados das escolas privadas baixaram muitíssimo (…) e (que) em 2018 deram em alinhar com o público”. Para tentar compreender esta situação inesperada, a autora dissecou o que está incluído em “escolas privadas”. E concluiu que a “percentagem de escolas estritamente privadas diminuiu mais de 30 pontos percentuais. As escolas onde se oferecem cursos CEF, que eram anteriormente inexistentes no privado, representa, agora 11% e o peso do ensino profissional com equivalência ao secundário duplicou”. Comparando os resultados com os das escolas públicas, a autora conclui que só (n) “O ensino geral da escola pública tem uma média inferior à dos privados, o que se justifica por ter uma base de alunos muito maior e de grande diversidade socioeconómica e cultural, mas fica equiparado aos Contratos de Associação que servem o mesmo tipo de população, pois estão impedidos de selecionar e a sua frequência é gratuita para as famílias”.
Ou seja: cai por base a tese (ideológica) da superioridade pedagógica das escolas privadas. Quando colocadas nas mesmas condições, as escolas privadas têm resultados iguais ou inferiores aos das escolas públicas. E vale a pena relembrar aqui os dados de um outro estudo recente: no ensino superior os resultados dos alunos provenientes do público são muito melhores do que os resultados dos provenientes das escolas privadas.
Um desabafo muito pessoal: custa-me que a Igreja Católica seja a proprietária e o suporte ideológico de um elevado número destas escolas privadas altamente seletivas dos seus alunos, dirigidas aos mais ricos de entre os ricos, num pecaminoso suporte de um mecanismo de segregação social e, portanto, socialmente injusta.
António Avelãs