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Discussão mínima

Por estes dias os parceiros sociais, a Assembleia da República, os comentadores dos media e alguns, poucos, portugueses que se interessam pelas questões sócio-laborais do nosso país, têm dedicado algum do seu tempo a esgrimir argumentos acerca do aumento do salário mínimo nacional.

Sem acordo na concertação social, o Governo fixou-o em 635€ para 2020.

Os "patrões" acham muito, a CGTP acha pouco e a UGT, mais uma vez, preparava-se para assinar um acordo, apesar de ter estabelecido como bom um valor de 660€.

Um clássico da nossa negociação em sede de concertação social.

Sintomático também é o facto de mais uma vez as organizações patronais considerarem "excessivo" o valor estabelecido pelo governo para o ano que vem.

Apesar de mínimo e de não retirar ninguém da pobreza, a direita em geral insurge-se contra este "excesso". Que vem aí o Diabo das falências, o desequilibro da economia nacional, a guerra público-privado.

Só alguns países do leste europeu, como a Bulgária, a Roménia ou a Polónia, tem salários mínimos inferiores a Portugal. Mesmo a Grécia, com todos os seus problemas próprios e exteriormente induzidos, tem 750€ de salário mínimo.

Insignificantemente mínimo são os 635€ se comparados com os 50 Mil Milhões de euros transferidos, sem imposto, de Portugal para os paraísos fiscais, nos últimos anos, ou, se quisermos, com os Milhares de Milhões, já nem sabemos quanto, desviados para os resgates dos Bancos, após 2008.

Que qualidade de vida entende a direita merecer uma parte significativa dos trabalhadores portugueses?

Que classes dirigentes temos nós que não almejam uma perspectiva mais agradável para o quotidiano da vida dos nossos concidadãos?

Que atordoamento sofremos todos nós, por outro lado, para continuar a eleger este tipo, mínimo, de decisores políticos?

Se alguma comparação se pode fazer será entre a miséria dos nossos salários e a paupérrima qualidade da grande maioria dos nossos políticos.

Ricardo Furtado