Desigualdade!
Ainda e sempre este flagelo, quase sempre imposto e intencional na humanidade, que apesar de omnipresente nas nossas vidas, surge, de quando em quando, mais evidente e brutal.
Os "bairros de lata", as migrações, os campos de acolhimento, a fome extrema, as oligarquias, o G7 e o G20, o sistema de castas, o trabalho infantil, o Muro, os muros enfim, uma lista infindável de ignominias e abjeções com que convivemos diariamente de forma mais ou menos apaziguada e das quais temos, enquanto sociedade, uma enorme capacidade de alheamento sanitário.
Não é uma atitude muito digna, individualmente, mas é, talvez, a forma de conseguirmos, em sociedade, manter uma razoável sanidade emocional grupal. Em nossa defesa diria que ninguém suportaria viver permanentemente angustiado com todas as desigualdades do Mundo. Ok.
Vem isto a propósito da ideia defendida por Thomas Piketty, economista francês, no seu último livro "Capital e Ideologia".
A origem e crescimento das desigualdades não é uma consequência inevitável do modelo económico globalmente vigente mas sim o resultado das escolhas politicas que têm sido tomadas.
Para Piketty tudo é político e ideológico, pelo que a decisão sobre o que fazer ao dinheiro, mais do que o "capitalismo selvagem", é o ponto-chave no combate às desigualdades. Sugere, neste sentido, opções de tributação fiscal e politicas redistributivas diferentes das que atualmente se praticam e que, no seu entender, estão na origem do retrocesso que a este respeito se tem verificado desde os anos 80, com Reagan e Thatcher.
Também a este respeito soubemos por estes dias que em apenas dois meses, os de confinamento pandémico, o número de indivíduos com riqueza superior a Mil Milhões de Dólares, aumentou de 2058 para 2189. Viram a sua riqueza subir 27.5%.
Em nome da igualdade, este dinheiro tem que ser posto na equação de resolução desta crise em que estamos atolados e, de uma forma mais abrangente, toda a acumulação excessiva e imoral de riqueza deve ser orientada para o combate às enormes desigualdades que destroem a vida e os sonhos de milhões de seres humanos.
Ricardo Furtado