Artigo:Cursos Vocacionais: mais dinheiro para o Privado!

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Cursos Vocacionais: mais dinheiro para o Privado!

Fez o ministro Crato aprovar, no seu provável estertor final enquanto pirómano-mor da educação em Portugal, a portaria n. º 341/2015, de 9 de outubro, que revê o enquadramento legal dos cursos vocacionais, instituindo, entre outras variações dantescas, os montantes a financiar pelo Estado nos cursos vocacionais do setor privado.

Estavam os professores em risco de requalificação do setor público contentes com a má sorte de ainda terem uns vocacionais para safar os horários, quando o mafarrico do alto do seu diatribismo militante, sabe-se lá senão mesmo fanático, lança esta doce tentação aos homens do negócio já instalados, e aos ainda por instalar: 50 000 euros por cada turma do básico, e pelo menos 64 000 euros (mais coisa menos coisa) no secundário, podendo, no último caso, chegar aos quase 83 000 euros, consoante a natureza do curso a financiar.

Fica-se também a saber que já se contempla, pasme-se, o desdobramento das turmas em algumas disciplinas, bem como a hipótese de estas terem menos de vinte alunos, mediante especial autorização, agora que, dizemos nós maliciosamente, os amigos dos negócios chorudos da educação necessitam de fazer um trabalho em condições, sem perturbar o bom clima geral dos seus estabelecimentos de ensino, pérolas do sossego e da disciplina.

Aprofunda-se assim o modelo dual cratense, a modos que mui possivelmente tecnofórmicos, mas desta vez com carácter sistémico e para todo o território nacional, sem que nenhuma consequência até agora tenha sido tirada acerca de todos os abusos cometidos no contexto do ensino privado, contra os professores, contra os outros funcionários, mas, acima de tudo, contra os alunos.

Porque se fala, incompreensivelmente à boca fechada, mesmo entre pais, que em muitos desses estabelecimentos privados é paupérrima a oferta de apoios diversos aos alunos, incluindo em materiais, equipamentos, visitas de estudo, etc., já que o dinheiro acaba empenhado em rúbricas obscuras ou em “despesas de representação”. Parece que o que conta, nesses sítios, é o “respeito” que os directores impõem aos professores e alunos, a “exigência” e outros salazarismos requentados.

O que pensarão o Soares do Santos e o Belmiro de Azevedo sobre isto, sendo que o último até já se seu ao trabalho de criar um think tank sobre educação? Já estou a ver os homens SONAE de pastinha entre escolas, a semearem e a colherem dividendos do maná que se chama Orçamento de Estado.

O ensino público entra assim, possivelmente, em mais uma fase de terraplanagem que precede a construção dum novo mundo educativo. Os professores? Entulho.

João Correia