Artigo:Cuidados Paliativos: porque todas as etapas da vida merecem ser vividas

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Cuidados Paliativos: porque todas as etapas da vida merecem ser vividas


Na sua edição de sábado, dia 9 de outubro de 2021, data em que se celebra o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos o Público abordou este assunto. Por conviver no meu dia-a-dia com crianças com doenças degenerativas e suas famílias a minha escolha de notícia recaiu neste tema. Numa sociedade em que cada vez mais se “ vive à pressa” torna-se importante realizarmos uma reflexão sobre este problema. Este artigo de Brígida Ferrão, médica responsável pela Equipa Intra-Hospitalar de Cuidados Paliativos do Hospital CUF Descobertas constitui um ponto de partida para essa reflexão e apresenta o assunto, destacando os seguintes pontos:

- Nunca é demais recordar a razão de ser dos cuidados paliativos: o alívio do sofrimento de quem padece de uma doença grave e ameaçadora da continuidade da vida, bem como da sua família.

- Existe ainda, infelizmente, um profundo desconhecimento da sociedade e, inclusivamente, dos profissionais de saúde relativamente às vantagens dos Cuidados Paliativos.

- É imperioso que se aprenda a lidar com o sofrimento humano e se reconheça que os Cuidados Paliativos não são adiáveis, porque todo o sofrimento é, já, uma urgência.

- O tratamento do sofrimento, seja ele físico, psicológico, social, familiar ou espiritual, não pode começar apenas quando já não existe um tratamento curativo para oferecer, quando, tantas vezes, não só a doença como os próprios tratamentos a ela dirigidos são causadores de descontrolo de sintomas e de necessidades de cuidado.

- Nos Cuidados Paliativos todos os procedimentos e tratamentos propostos devem ter como objectivo a identificação precoce, prevenção e alívio do sofrimento, a promoção de autonomia, o conforto, a dignidade e a qualidade de vida.

- O que se pretende é contribuir para que o doente possa viver o mais activamente possível até ao momento da sua cura ou morte.

- Os Cuidados Paliativos afirmam a vida, encarando a morte como um processo natural, não a antecipando (não praticam eutanásia e suicídio assistido) nem a retardando, à custa de medidas desadequadas.


Na nossa sociedade, permanecem contudo, muitos alguns mitos, como por exemplo o de que quem está doente sente dor e inevitavelmente não existe nada a fazer. No entanto, é um direito da pessoa que está doente e da sua família pedir acompanhamento por Cuidados Paliativos, poder ser escutado nos seus medos, inseguranças, angústias e ser apoiado na definição de um plano de cuidados e de vontades relativamente à sua vida.

Efetivamente os cuidados paliativos devem ser iniciados o mais cedo possível quando surge um diagnóstico de doença grave ou avançada e limitadora da vida que seja acompanhada de sofrimento de qualquer tipo (físico, psicológico, familiar ou outro).

É essencial que possa ser feito tudo o que está ao nosso alcance para melhorar a qualidade de vida de quem está gravemente doente, mas também da sua família. Ser acompanhado por Cuidados Paliativos e pelo médico que se dedica ao tratamento da doença, pode e deve ser feito em simultâneo: uma coisa não exclui a outra, bem pelo contrário.

Num contexto de pandemia como o que vivemos pareceu-me de extrema pertinência abordar este assunto e reflectir um pouco sobre ele.

Ana Cristina Gouveia