Cratinices ou Costafullhices: em que acreditar?
Eis a notícia que faz correr muita tinta: os alunos portugueses pioraram no desempenho a matemática no Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), passando de 541 pontos em 2015, para 525 pontos em 2019, ou seja, descendo do 13ª para a 20ª posição entre os países participantes.
Ao contrário do que afirmou João Costa, parece óbvio que o fim dos exames no final do 4º ano tem alguma coisa a ver com estes resultados, já que, sem esse aguilhão a ameaçar as partes baixas, a generalidade das gentes terá tendência a esforçar-se um pouco menos a aprender e a ensinar a…resolver exames.
Aprender ou ensinar a resolver exames não é, por sua vez, sinónimo de ensinar ou aprender as capacidades, atitudes e competências que se deveriam adquirir ao longo do percurso escolar, sendo antes um potencial aliado ou adversário, consoante a gestão que se faça dos mesmos. E o percurso escolar não acaba aos nove anos, nem aos 13, quando se aplicam estes testes.
Sim, a realidade não é assim tão simples, nem como Costa, nem como Crato querem fazer acreditar.
Começo por afirmar de uma forma inequívoca: sou contra os exames no fim do 4º ano, não me chocam os do final de 6º, sou totalmente a favor dos exames no final do 9º ano e, obviamente, no secundário.
Porquê?
Não porque considere, como Costa, que eles não têm interesse nenhum, mas porque considero como péssima pedagogia, em idades tão tenras quanto o intervalo que decorre até aos nove anos, conduzir a prática docente como uma espécie de preparação intensiva para a realização de exames, submetendo as crianças a níveis de ansiedade para os quais não têm ainda o desenvolvimento cognitivo e emocional adequado. E que ideia farão, desde essa fase das suas vidas, sobre a Educação? Como uma sempiterna sequência de treinos e momentos competitivos que os acompanhará até aos 18 anos, pelo menos?
Assim como considero que as crianças e jovens de faixas etárias mais elevadas beneficiam da existência de provas nacionais bem concebidas, pois é preciso que saibam, com a dureza própria da realidade dos factos, aos quais deverão habituar-se, qual o nível de desempenho em que efetivamente se encontram, possibilitando a tomada de decisões sobre o seu percurso escolar mais conscientes, realistas e de acordo com as suas reais capacidades.
É bom que haja rankings para aferir da consecução dos sistemas educativos, mas também é importante que tenhamos a margem de escolha que nos permita gerir os ritmos de aprendizagem dos alunos em função dos valores que preconizamos.
Prefiro que os alunos com 9 anos do meu país aprendam a gostar de aprender até essa idade, e que, mais tarde, até aos 18, possam sair do sistema educativo com níveis de desempenho equivalentes aos melhores (os quais, esperemos nós, se tornem bem mais do que peças funcionais da engrenagem capitalista).
Enfim, opiniões.
João Correia