Artigo:Comuna de Paris, 150 anos depois

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Comuna de Paris, 150 anos depois

Em 1 de setembro de 1870, o exército de opereta III Império francês foi esmagado pelas tropas prussianas na batalha de Sedan. O imperador, Napoleão III, foi feito prisioneiro. Em 14 de setembro, formou-se um governo provisório que deu início à III República Francesa. Os prussianos invadiram o país e cercaram Paris. Presidido por Adolpho Thiers, um monárquico conservador, o novo governo com a maior parte do exército prisioneiro dos alemães negociou a paz com a cedência da Alsácia e a Lorena à potência invasora.

O operariado de Paris recusou o pacto humilhante com o invasor e o reconhecimento do governo de defesa nacional sediado em Versalhes. Em 18 de março de 1871, foi proclamada a Comuna de Paris, um conselho revolucionário, composto por jornalistas, militantes de inspiração jacobina, partidários de Pierre Joseph Proudhon (1809-1865), Augusto Blanqui (1805-1881) e anarquistas. Dez dias depois, realizaram-se eleições por sufrágio universal. Inspirados nas ideias de Proudhon, os revolucionários parisienses apelaram para a constituição de uma Federação Livre que, no entanto, não se concretizou. Formou-se assim uma situação de duplo poder: dum lado, o governo de Versalhes, representante da III República; do outro, a Comuna revolucionária de Paris que, porém, tinha apenas a capital do país sob a sua jurisdição, sendo, portanto, um governo minoritário a nível nacional.

A Comuna de Paris foi uma tentativa mais avançada do que a da Revolução de 1848, que instaurou a II República, de instituir uma república democrática e social: separação da Igreja do Estado, educação laica e gratuita, abolição dos exércitos permanentes, igualdade entre os sexos, legalização dos sindicatos, extinção do trabalho noturno, jornada de trabalho de oito horas, livre associação de cooperativas autogeridas com a ocupação das fábricas da cidade abandonadas pelos proprietários em fuga e abolição da pena de morte que apenas seria aprovada definitivamente em 1981 durante a presidência de François Mitterrand. No plano político, foi instaurada a democracia direta baseada no mandato imperativo em que os governantes eram eletíveis e revogáveis por quem os mandatava, a sujeição de todos os lugares da administração da justiça e do ensino ao sufrágio universal, a remuneração de todos os cargos públicos pelos salários dos operários, sendo o vencimento mais elevado de 6000 francos para evitar a corrupção e a caça aos lugares.

A experiência da Comuna de Paris teve, porém, uma duração efémera de apenas 72 dias. Conseguindo que os prussianos libertassem 60 000 soldados prisioneiros, o governo de Versalhes lançou uma ofensiva contra Paris em 21 de maio de 1871, derrubando, apesar da resistência da população parisiense, as frágeis defesas da cidade insurreta. Entre 22 e 28 de maio decorreu a chamada ‘semana sangrenta’ em que as tropas de Versalhes perpetraram um massacre: 20 000 mortos, 17 000 executados, 40 000 prisioneiros e 13 mil condenações. Num acesso de fúria iconoclasta, denunciada pelo escritor francês Émile Zola no seu romance “La débacle” (“A derrocada”), os ‘communards’, para além da execução do arcebispo de Paris e de 50 alegados contrarrevolucionários, dos quais 24 padres, incendiaram edifícios públicos, o Palácio Real, o Palácio da Justiça e o edifício da Câmara Municipal onde arderam todos os artigos. Estes eventos retiram-lhes a auréola de santidade martirológica que alguns sacerdotes laicos da esquerda radical lhes atribuíram no século passado. Seja como for, a enorme desproporção entre o número de vítimas dos dois lados do conflito não tem comparação possível.

Em novembro de 2016, o máximo órgão legislativo francês adotou a seguinte resolução: “Considerando que a amnistia parcial de 1879 e a amnistia total de 1880 não permitiram reabilitar o conjunto das vítimas da repressão da Comuna de Paris de 1871 (…) a Assembleia Nacional “proclama a reabilitação das vítimas da Comuna de Paris de 1871”.

Para memória futura…

Joaquim Jorge Veiguinha