“Como se avaliam 500 jovens?”
Desta vez, a minha Notícia do Dia não vai ser feita com uma notícia retirada de um jornal da manhã de hoje. Fui buscar “inspiração” ao artigo com o título deste breve apontamento, em destaque na capa do Diário de Notícias do dia de Santo António.
Como não acredito em milagres, respondo que é humanamente impossível avaliar 500 ou mais alunos. O artigo da autoria de Cynthia Valente é breve e claro. Focado na realidade de professores/as que leccionam TIC, apresenta dois casos concretos. O primeiro, o de uma professora com duas disciplinas no horário – TIC e Cidadania – tem mais de 8 níveis, 24 turmas e perto de 500 alunos! Com uma aula de 45 minutos por semana, pergunta essa professora: “É uma loucura. Como se avaliam cerca de 500 miúdos, com cinco ou seis aulas dadas e quase sem elementos de avaliação?” Os momentos de avaliação são para estes docentes verdadeiros quebra-cabeças, com reuniões de manhã à noite e a avaliar alunos que muitas vezes nem se sabe como se chamam. Desesperante a situação de quem ama a sua profissão e que diz desalentada: “”Educar sem afectos e sem tempo não é educar, é passar informação”.
O outro caso de um professor na região da Grande Lisboa dá aulas de TIC a todas as 26 turmas da escola do 5º ao 9º ano. São 5 níveis, portanto. Mas ainda tem cargos: uma direcção de turma, apoio TIC (o chamado “desenrasca” das escolas) e apoio aos colegas. As inúmeras tabelas de Excel que utiliza para poder ser o mais justo possível na altura da avaliação de 600 alunos, fazem-no olhar para a sua profissão e para os seus alunos como “ um ensino tipo linha de montagem, despersonalizado e mesmo desumanizado.” No final, de todos aqueles alunos, pouco mais sabe do que os nomes dos que são mais problemáticos e que causam mais distúrbios na sala de aula.
Sem mais considerações, esta notícia apenas aborda a situação dos/as docentes de TIC, mas a situação pode ser estendida a toda a classe sobrecarregada com horários e tarefas verdadeiramente hercúleos. Deixo aqui estas questões tão simples. Quem se admira que haja tanta falta de candidatos/as a leccionar TIC? Quem quer ser professor/a de TIC nestas condições? Quando tanto se fala de transição digital, é assim que se está a investir na formação dos/as nossos/as jovens para a almejada sociedade do futuro?
Almerinda Bento