Artigo:Com que Luta, Professores?

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Com que Luta, Professores?


Perto de mais um final de ano lectivo em que apesar das continuadas greves, entre outras acções reivindicativas, que ocorreram maioritariamente a partir de Dezembro de 2022 mas também,  não devemos esquecer, logo em Outubro e Novembro, na altura só dinamizadas por alguns, poucos, sindicatos, e em que a maioria das aulas não leccionadas se deveu sobretudo à inexistência de professores suficientes para suprir todos os horários de todas as escolas do país, eis-nos chegados à lamentável situação, indesejada por todos os professores e sindicatos, de sermos obrigados a pensar num próximo ano escolar de enorme instabilidade para a Escola Pública Portuguesa.
Perante o incómodo generalizado, que se estende a toda a população, como foi notório no ano que finda, convém questionar a quem interessa manter toda esta injusta, inadmissível e insuportável situação?
Quem ganha com isto?
Porque teima o Governo em prejudicar o normal funcionamento de um sector-pilar que, como é por todos reconhecido, até internacionalmente, operou uma das mais significativas evoluções da nossa quase cinquentenária democracia?
Até agora todos os arremedos de negociação que o ME estabeleceu com os Sindicatos redundaram, por ausência de soluções admissíveis,  na  convocação dos professores para mais formas de Luta, inseridas nos já conhecidos reptos “Respeito” e “Não Paramos!”.
Até agora o ME tem mantido uma postura hipócrito-beligerante, negando não só o que apresenta nas reuniões negociais como também, por via dos “serviços mínimos”, o próprio direito constitucional  de exercício da Greve.
Aqui chegados, assalta-nos outra dúvida que é ao mesmo tempo de simples resposta e de tenebroso alcance;
Para onde estão estes “democratas” postos em governação a atirar a Luta dos Professores e, bem vistas as coisas de forma mais abrangente, de todos os trabalhadores, que assistem diariamente, Lagardemente diria, e ano após ano ao decréscimo acentuado das suas condições de vida?
De facto, que alternativa civilizada e socialmente tolerável de reivindicação estão estes senhores dispostos a aceitar?
Não percebem, não sabem nem intuem que a deturpação das regras democráticas em privilégio de alguns dará, mais tarde ou mais cedo, lugar a formas de luta cada vez mais extremadas e violentas?
Não entenderam já que a maior notoriedade de movimentos sindicais menos alinhados reflecte uma maior propensão e adesão para formas mais extremadas e radicalizadas de Luta?
Será que pretendem provar à saciedade que a democracia não serve como sistema, uma pausa para limpar direitos e valores incómodos como em tempos alguém já sugeriu, e justificar assim o aparecimento providencial de Juntas e Almirantes ?
Por outro lado e se o entenderam, é isso que pretendem ou, como populistas providenciais, consideram estar de tal forma incrustados de razão que as massas acabarão por sucumbir aos seus ditames e a aclamá-los como os semideuses que acham que são?
O populismo de Estado, ainda que travestido de simpático-optimista irritante, e o desrespeito pelos princípios democráticos inscritos na Constituição da República fazem muito pior à Democracia portuguesa que todas as inomináveis diatribes da extrema-direita  juntas.
Se bem notarmos, o “vírus”, lembram-se, porque instalado em sede governativa, já  está a contaminar a qualidade do exercício da democracia em Portugal.
Infelizmente, estes encobertos populistas legitimados pelo voto, acto a que querem reduzir a democracia, não só não estão a justificar o crédito democrático que neles se depositou como também estão a contribuir significativamente para o crescimento dos movimentos populistas não democráticos, anti-sistema e de carácter nacionalista tão em voga por esse mundo fora.

Ricardo Furtado