Centeno, o Governador!
Na conferência de imprensa que se seguiu à apresentação do Boletim económico trimestral do Banco de Portugal, Centeno fez um alerta à nação
Nem pensar mudar o que quer que seja na legislação laboral.
Ficamos assim todos a saber que, apesar do previsível aumento do PIB em 4.8% em 2021, acima do esperado, "uma das características do sucesso das nações é a estabilidade do quadro legislativo em que se movem", logo, e uma vez que o nosso mercado de trabalho demonstrou a "adequabilidade" da legislação laboral em vigor, nada, nesta matéria, deve ser alterado.
Aliás, o Governador observou que "Ao longo dos últimos anos vimos o emprego permanente ganhar espaço em relação ao temporário" e que "os salários e os rendimentos reforçaram-se".
Provavelmente estará a referir-se à sua situação particular e, talvez, do seu círculo próximo, uma vez que, por exemplo, o número de trabalhadores em contrato coletivo de trabalho em Portugal tem diminuído significativamente nos últimos anos e isto em nada abona acerca da "adequabilidade" da legislação vigente.
Centeno considera também que deve haver apenas "uma redução gradual da componente estrutural dos impostos", não discriminando em que impostos, se sobre os rendimentos do trabalho ou os das empresas, o que faz toda a diferença.
Em democracia os impostos devem ser justos, adequados e suficientes e, no actual quadro pandémico, as empresas que mais tem beneficiado com a situação devem, ao contrário do que defende Centeno, ver aumentados os impostos sobre os seus rendimentos. Seria uma medida da mais elementar justiça social, adequada à situação em que estamos a viver e suficiente, talvez, para que o país pudesse mais facilmente resolver os problemas financeiros com que se tem deparado ultimamente.
Ricardo Furtado