Artigo:Caretos, Cantar dos Reis, Aldeias Comunitárias e Pauliteiros

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Caretos - Cantar dos Reis - Aldeias Comunitárias - Pauliteiros

O Departamento de Professores Aposentados do SPGL, realizou de 4 a 8 de janeiro de 2018, uma viagem cultural ao Nordeste Transmontano.

Os cerca de sessenta professores foram conhecer e vivenciar a história, as tradições milenares, os costumes e rituais, as paisagens, a língua e os dialetos, a gastronomia, a máscara ibérica, os trajes utilizados , o peditório das almas, a música, a gaita-de-foles, as danças tradicionais mirandesas - os pauliteiros, a festa dos rapazes ou dos caretos, o cantar dos Reis, os cantares D`Antanho, a queima do tronco , a queimada, as fogueiras, as mesas redondas temáticas, as festividades, o convívio e os programas com as populações, tudo isto, transportou-nos por outros mundos em terras de Portugal.

Tivemos o privilégio da companhia como guia do professor António Pinelo Tiza, a sua apresentação em power point, no primeiro dia, deu-nos uma visão global deste valioso património Transmontano, desde os diferentes rituais e cultos ao ciclo festivo do Inverno, uns dedicados aos santos e realizados no espaço sagrado, outros em honra dos deuses, do Sol e da Natureza, no espaço profano, que é a rua e a praça pública. As festas começam a 31 de outubro e acabam na 4ª feira de cinzas, duram seis meses, cumprindo a tradição nas aldeias transmontanas em que o sagrado e o profano andam de mãos dadas, numa união e ligação do homem rural à terra e à Mãe-Natureza.(1)

Usufruímos deste tempo, com o calendário litúrgico e a quadra do Natal, o expoente máximo das festividades: as festas dos rapazes, de Santo Estevão, do Menino, do Ano Novo e dos Reis, e foi na aldeia de Salsas que assistimos a um programa da Festa dos Reis - Reis de Salsas, a 6 de janeiro, em que nada faltou como a comemoração do solstício de Inverno com o ritual da Queima do Careto - Ano Velho, expulsando os males e preparando o Ano Novo. A festa foi protagonizada por portugueses e espanhóis mascarados com desfile de caretos um rito da puberdade, vestidos com fatos de lã tecidos no tear, coloridos e com franjas, capuz na cabeça e uma máscara com dois cornos ao jeito demoníaco.   As danças, as representações, as chocalhadas, os jogos, os gritos, o peditório em nome das almas dos defuntos, as cerimónias de rua, o convite para o jantar comunitário e a arrematação do fumeiro recolhido, é sem dúvida uma experiência inesquecível, vivendo a tradição e em interação com a comunidade.

Bragança foi o ponto de chegada e partida para os quilómetros percorridos e também para as visitas; ao Museu Ibérico da Máscara e do Traje criado pela cooperação entre o Município de Bragança e a Ditutación de Zamora, ao Centro de Interpretação da Cultura Sefardita do Nordeste Transmontano, espaço destinado à preservação das comunidades judaicas que habitaram a região transmontana e o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, é um projeto arquitetónico de referência do arquiteto Souto Moura, prémio Pritzker 2011.

Rio de Onor é uma aldeia comunitária com um regime ancestral de partilha e entreajuda na forma agro-pastoril, com cerca de 50 habitantes, sem crianças. É atravessada pela fronteira com Espanha, Rihonor de Castilha, à distância de uns passos e separada pelo rio Onor, com casas típicas serranas em xisto e varandas alpendradas. É falado o rionorês, dialeto que nasceu da mistura do castelhano e do português.

Miranda do Douro, nesta região fronteira a nordeste e sueste, fala-se o mirandês, segunda língua oficial em Portugal, trata-se de uma variante da antiga língua asturo-leonesa, própria do Reino de Leão. O Museu da Terra de Miranda apresenta coleções de etnologia e arqueologia com as tradições do povo mirandês, os têxteis, o vestuário (capa de honras), rituais solsticiais com máscaras, música e dança – como os pauliteiros.

Visitámos duas das 12 Aldeias Históricas de Portugal:

Uma é Marialva com o castelo, seu principal monumento que domina a paisagem com a sua configuração oval e as muralhas. Atualmente apresenta três aglomerados populacionais distintos: a Cidadela em ruínas, localizada dentro das muralhas da aldeia; a Vila que se desenvolveu fora das muralhas e a Devesa, no sopé do monte onde se situa a cidadela.

A outra é Trancoso. A visita a esta cidade iniciou-se nas Portas d`El Rei, as portas principais da cintura das muralhas que rodeia a antiga vila medieval, tem um vasto património arquitetónico, civil e religioso e dão ao centro histórico uma imagem única. Para além da Igreja de Nossa Senhora da Fresta, estilo românico, ainda se visitou o Centro de Cultura Judaica Isaac e a Casa Bandarra.

Passámos cinco dias num Inverno Mágico, a conhecer, descobrir, saborear e desfrutar.

No dia seguinte à nossa chegada soubemos que caiu um nevão em Bragança, afinal a tradição da terra-fria sempre existe.

Ficámos com as imagens fotográficas de Trás-os-Montes branca-de-neve e com o desejo de um dia podermos lá voltar!

Maria João Vale
professora aposentada
janeiro 2018

(1) Tiza, António, 2015, Inverno Mágico.

Reportagem

Bragança 04 - Veja aqui


Caretos - dia 5 - 1ª parte
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Caretos - dia 5 - 2ª parte

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Caretos - dia 6 - 1ª parte

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Caretos - dia 6 - 2ª parte

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Caretos - dia 7 - 1ª parte - Veja aqui

Caretos - dia 7 - 2ª parte - Veja aqui

Caretos - dia 8 - Veja aqui