Artigo:Borges Coelho, um mestre que ilumina

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Borges Coelho, um mestre que ilumina

António Avelãs | Dirigente 

As ideias têm outra luz antes de se esconderem nas palavras. Explodem na treva antes de arrefecerem nos sinais. Mas quanta luz se ganha no manuseio, na interrogação, no vocabular da palavra

Pertence ao próprio A. Borges Coelho (História de Portugal, volume1, 2010, p.11) este elogio ao poder da ideia que é preciso recuperar nas palavras que a escondem e a arrefecem, mas que ao mesmo tempo lhe dão mais força quando temos a coragem de as interrogar. Foi com elas que inauguramos o nosso Espaço ABC (António Borges Coelho) que, como salientou o presidente do SPGL, é o reflexo do que ele acreditava — que a cultura é também uma forma de luta, que a escola é lugar de libertação, e que a memória é uma força viva.

A arte de interrogar permitiu-lhe uma historiografia singular, rigorosa nas fontes que “faz falar”, destruindo ideias e mitos prevalecentes e sublinhando o papel e o “falar” das gentes que a historiografia canónica esquece.

Mas Borges Coelho não foi só historiador. Deixou-nos seguros estudos sobre Espinoza e Leibniz, vários volumes de poesia, de teatro e romance além de interessantes crónicas em vários jornais.

Professor de agudo espírito crítico e interrogativo, proibido de ensinar no ensino público pelo regime fascista, a Revolução fez justiça ao seu saber como professor da Faculdade de Letras de Lisboa.

Sempre interveniente como cidadão, militante do PCP até 1991, Borges Coelho fez do “manuseio da palavra”, que dá força à ideia, uma ponte fraterna e generosa, que o leva a escrever: “Do saco sem fundo das palavras retirei Amizade e Esperança.

 A Amizade vive do idêntico e do contrário, sustenta a claridade dos dias (...)

A Esperança de que falo desemboca em multidões na rua larga em defesa da dignidade e das liberdades conquistadas em séculos de invenção, de luta e de sangue. A Esperança de que falo amanhece com um sorriso nos lábios” (A. Borges Coelho, Crónicas e Discursos, pg19-20).

Borges Coelho: um mestre que ilumina.

Texto original publicado no Escola/Informação Digital  n.º 47 | novembro/dezembro 2025