Artigo:Atividades de enriquecimento curricular (AEC): o valor das palavras

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É estranho que um currículo precise de ser enriquecido. Parece sugerir-se que o “obrigatório” é um currículo pobre. Pode discutir-se – e eu não discuto porque não sei – se a aprendizagem do inglês (e que tipo de aprendizagem) deve iniciar-se logo pelos 6 ou 7anos. Mas se assim for, então deve fazer parte do currículo. O mesmo se diga para qualquer outra área das aprendizagens. “Enriquecimento curricular” é pois uma expressão que deixa demasiadas ambiguidades.

É verdade que há aprendizagens importantes que não são curriculares, isto é, que não fazem parte daquilo que as escolas devem obrigatoriamente e de forma formalizada ensinar e que não são passíveis de avaliação direta. São as aprendizagens que resultam das amizades, das ternuras e dos conflitos, das práticas lúdicas que cada criança escolhe. Isso mesmo: das práticas lúdicas e portanto não curriculares.

O conceito de AEC é bem mais perverso que o de ATL (atividades de tempos livres). Reconheço a bondade da intenção de Lurdes Rodrigues: possibilitar a todas as crianças a ocupação pós-escolar a que só os que pagavam tinham acesso. Há que conciliar esta justa intenção com o caráter lúdico e não escolarizante que as atividades pós-curriculares devem ter. Há toda a vantagem em envolver as coletividades dos bairros neste processo, há toda a vantagem em retirar das escolas essa tarefa. Poderemos então ter menos “enriquecimento curricular” mas mais aprendizagens “formativas”

António Avelãs