Artigo:Assembleia Geral de Sócios | Sessão Evocativa dos 50 Anos do SPGL

Pastas / Informação / Todas as Notícias

Assembleia Geral de Sócios

Sessão Evocativa dos 50 Anos do SPGL

No passado dia 2 de maio de 2024, dia de celebração dos 50 anos do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, realizou-se na Escola Básica 2,3 Manuel da Maia, em Lisboa, a Assembleia Geral de Sócios Extraordinária - Sessão Evocativa dos 50 anos do SPGL. A Presidente da Mesa da Assembleia Geral de Sócios (A.G.S.) do SPGL, Rosa Vaz, realizou a intervenção de abertura, a qual foi precedida de um momento musical levado a cabo por estudantes da EB 2,3 Manuel da Maia que cantaram as músicas «Somos livres», de Ermelinda Duarte, e «Grândola, Vila Morena», de José Afonso, numa iniciativa organizada pela professora Carla Leão e pelo professor Nuno Tito. O diretor, professor Luís Mocho, esteve igualmente presente em representação da EB 2,3 Manuel da Maia.

No decorrer da A.G.S., intervieram os ex-presidentes do SPGL, Joaquim Pagarete, António Teodoro, Paulo Sucena, António Avelãs e José Alberto Marques, os quais foram homenageados, assim como vários professores que integram o conjunto dos primeiros 50 sócios do SPGL. Intervieram igualmente Joaquim Carvalho e Inês Costa, atuais dirigente e delegada sindical do SPGL, respetivamente. No final da sessão usaram da palavra Tiago Oliveira, Secretário-Geral da CGTP-IN, e Mário Nogueira, Secretário-Geral da FENPROF. José Feliciano Costa, Presidente da Direção Central do SPGL, realizou a intervenção de encerramento da Sessão Evocativa dos 50 anos do SPGL.

No decorrer da A. G. Sócios foi ainda aprovada por unanimidade e aclamação a «Saudação - 50 anos do SPGL, tantos como Abril», apresentada pela Mesa da Assembleia Geral de Sócios.

Por ocasião do 50.º Aniversário do SPGL, os partidos políticos Bloco de Esquerda (BE), no decorrer da A.G.S., e Partido Comunista Português (PCP) endereçaram Saudações ao SPGL.

Após a A.G.S., e já no exterior da EB 2,3 Manuel da Maia, todos os presentes tiveram oportunidade de descerrar uma placa comemorativa dos 50 anos do SPGL, afixada à porta do pavilhão escolar.

Rosa Vaz
Presidente da Mesa da Assembleia Geral de Sócios (A.G.S.) do SPGL

«SPGL tantos anos como Abril! O lema que adotamos lembra-nos que nunca é de mais referir o contributo determinante e libertador que a Revolução do 25 de Abril proporcionou, esse “dia inicial, inteiro e limpo” sem o qual aquele outro, 2 maio de 1974, teria com grande probabilidade outra história para contar, bem menos risonha para a história do movimento sindical docente, uma vez que, por essa altura, se preparava a repressão de um movimento que ganhara uma dimensão que começava a ameaçar o regime fascista.

Esse movimento, e a estrutura organizativa que já existia, foram determinantes para a rápida formação dos sindicatos de professores logo após a Revolução. Foi assim possível, poucos dias após o 25 de Abril de 1974, por convocatória da Comissão Coordenadora dos Grupos de Estudo, realizar uma Reunião Geral de Professores, prevista inicialmente para o ginásio da Escola Preparatória Manuel da Maia, onde hoje estamos, mas que teve que ser transferida para o Pavilhão dos Desportos uma vez que a participação massiva dos professores que a ela acorreram rapidamente demonstrou que aquele espaço era demasiado exíguo e frágil para a força dos milhares de professores com vontade de participar e intervir na resolução dos problemas da classe e contribuir para o novo rumo que se abria para a educação e o país. Já no Pavilhão dos Desportos, com as bancadas lotadas, a reunião varou a noite e só terminou, muitas horas depois, já na manhã de 3 de maio.» 

Joaquim Pagarete
Ex-presidente do SPGL

«Construíamos o nosso Sindicato como instrumento de luta para defender os nossos direitos como classe e, em simultâneo, construíamos a Escola Pública mergulhados no processo revolucionário desenvolvido pela população trabalhadora em todo o país.

Nesse período, todos juntos pusemos fim à guerra. Todos juntos, tomámos o país de Abril nas nossas mãos.

Por exemplo no sector do Ensino, nos concursos para colocação nas escolas relativos ao ano letivo de 1976-1977 – quando tive a honra de estar a presidir à 1.ª Direção eleita do nosso Sindicato, depois da aprovação dos Estatutos – os docentes da Grande Lisboa, que o Ministério da Educação (cujo ministro era o major Vítor Alves) queria deixar sem colocação, obtiveram uma vitória retumbante.

Em ligação com os milhares de outros docentes, na mesma situação em todo o país, eles impuseram que o Ministério da Educação colocasse nas escolas todos os candidatos. E para isso utilizaram, em particular, o nosso Sindicato, que – mesmo aqueles que dele não eram sócios consideravam – como “a sua casa”.» 

António Teodoro
Ex-presidente do SPGL

«50 anos depois, o que é que fica? E qual foi o nosso contributo?

É esse o contributo que há que transmitir aos mais jovens, que aqui estão. O que fica 50 anos depois é, em primeiro lugar, uma forma de entender a profissão docente.

Uma profissão que está ligada à emancipação das crianças e dos jovens e dos adultos com que nós trabalhamos.

Uma profissão ligada, e que tem como centro, a emancipação social. 

Um professor é aquele que acredita que pode melhorar a condição social, no futuro, daqueles com quem trabalha. 

E uma conceção de ação sindical. E que presumo que ainda seja respeitada. Que é - tudo diz respeito aos professores, diz respeito ao sindicato.

O sindicato não se fecha nas suas questões corporativas, nas suas questões laborais. Vai buscar o que há de melhor na história sindicalismo docente, que não é só o sindicalismo laboral, é o sindicalismo profissional.

Vai tentar fazer uma síntese entre o sindicalismo laboral e o sindicalismo profissional.

E esse foi, desde a origem dos Grupos de Estudo, o grande, grande contributo. Associar as duas questões.

O sindicato não nasceu de uma decisão de uma organização política. Nasceu de baixo para cima. E desde os Grupos de Estudo, toda a nossa preocupação foi, delegados nas escolas. Trabalho de base. A segunda preocupação foi sempre a unidade.» 

Paulo Sucena
Ex-presidente do SPGL

«Estes anos, os primeiros anos, eram complicados. Mas, felizmente, não havia problemas de maior.

De facto, aquilo corria. E com dois aspetos fundamentais, que, para mim, eram extremamente importantes. E quem tiver acesso aos primeiros cadernos do professor, está lá. A grande preocupação — e penso, quem pudesse ver a história do SPGL, e se for a ver os editoriais está lá —  era, de facto, a grande importância que se dava também, àquilo que hoje se chama a profissionalidade, isto é, ao perfil profissional do professor. 

Sim senhor, um sindicato de massas. Mas não deixar que não houvesse uma grande atenção, relativamente à formação profissional dos professores. E a história do SPGL está cheia disso, de encontros, de reuniões, de seminários, etc. Exatamente para não deixar o perfil profissional dos professores na sombra. 

Outro aspeto, e digo isto por mim, eu penso que — e não estou a pensar só no sindicalismo português —  é um sindicato onde a luta democrática é exemplar e única.» 

António Avelãs
Ex-presidente do SPGL

«Esta atitude de consenso dinâmico que resulta do frontal confronto de projetos diferentes, esta unidade criativa porque fundada no respeito pelas opiniões divergentes, foi e tem de continuar a ser a “pedra de toque” de um SPGL que queira corresponder aos interesses profissionais e pedagógicos de uma classe docente heterogénea e contraditória.

O SPGL ao longo destes 50 anos tem, normalmente, sabido contornar os perigos do sectarismo, que é o caminho para o enfraquecimento de qualquer sindicato e de qualquer central sindical. Sectarismo que, quero crer, os órgãos sociais do SPGL continuarão a combater, reconhecendo que quem pensa diferente não é necessariamente inimigo, que o dogmatismo é um obstáculo ao aprofundar das ideias e da procura de soluções e que, por essa via, enfraquece as lutas.

(…) Tenho a certeza de que o SPGL continuará fiel à sua matriz de um sindicato democrático, plural, sempre na busca de uma unidade que corresponda à pluralidade pedagógica, política e partidária da classe docente, unidade imprescindível para a defesa da escola pública de qualidade para todos, alimentada por uma classe profissional cujo respeito e prestígio continuaremos sempre a exigir. Numa escola que forme para a democracia, numa escola que forme verdadeiramente cidadãos.» 

José Alberto Marques
Ex-presidente do SPGL

«Cada desafio superado, cada negociação bem-sucedida, cada vitória conquistada é fruto do esforço conjunto de todos. Juntos, temos sido a voz de todos os docentes, desde o pré-escolar ao ensino superior, da escola pública à privada, lutando incansavelmente pelos seus direitos e garantindo melhores condições de trabalho para todos.

Que este cinquentenário seja mais um momento de reflexão e renovação daquilo que é necessário dar resposta. Que possamos continuar a avançar com firmeza, justiça e solidariedade, defendendo os direitos dos docentes e promovendo um ambiente de trabalho mais justo e igualitário. Não nos podemos esquecer que a base fundamental do nosso trabalho é estar em cada local de trabalho com e para os docentes.

Parabéns a todos nós por esses 50 anos de história e que possamos seguir juntos, unidos e determinados, rumo a novas conquistas e vitórias em prol de todos os docentes.» 

 

Joaquim Carvalho
Dirigente do SPGL

«Um futuro onde continuar a lutar pela dignificação da classe será uma inevitabilidade.

Quero continuar a fazer essa luta junto a quem privilegia o debate e a discussão de ideias, ao invés do impulsivo protagonismo mediático. Quero continuar a lutar numa organização que dá espaço e voz à divergência (mesmo que isso implique a autocrítica) e que não sucumbe às tentações autofágicas de totalitarismos e sectarismos, que nada mais promovem do que falsas ilusões de coesão e de unidade. Quero lutar ao lado de quem prioriza a negociação e o diálogo, mas que não hesita em reclamar para si as ruas, as avenidas e as praças deste país.» 

Inês Costa
Delegada Sindical

«Apesar de estar nesta profissão há pouco tempo, cedo compreendi a importância e a necessidade de estar organizada, em particular num sindicato como o SPGL. 

É importante, porque é preciso defender a Escola Pública, é preciso defender a sua qualidade, o facto de ser gratuita e para todos, e todos deveriam ter direito àquilo que fazemos diariamente. É importante, porque só com a luta organizada dos professores se conquistarão melhores condições de trabalho para cada um de nós, trabalho esse a que nos dedicamos diariamente de corpo, alma e coração, porque acreditamos que a educação é o grande pilar da nossa sociedade.»  

 

Mário Nogueira
Secretário-Geral da FENPROF

«O SPGL foi sempre um sindicato de referência para todos nós. Nós que estávamos na zona centro, na zona norte, com gente que estava feita com o poder e a única coisa que fazia era trair os professores com negociatas de corredor com os governantes. E, por isso, a certa altura, quer no norte, quer no centro, o sindicalismo docente tinha morrido. E a coragem daqueles que lá, na altura, avançaram com os referendos aos professores e que constituíram o sindicato de professores da região centro e, depois de seguir, o sindicato dos professores do norte, foi uma pedrada num pântano completamente parado, em que já praticamente não existia sindicalismo nas escolas, nos professores. E foi também na sequência desta dinamização, sempre com o SPGL como farol, porque era o grande sindicato, que era e que continua a ser, de professores em Portugal, que a FENPROF se constituiu no dia 30 de abril de 1983. (…) 

A FENPROF lutou para que, e com sucesso, hoje, todos os docentes do pré-escolar ao ensino secundário tenham uma carreira única. E continuamos a tê-lo, e isso foi mais uma das lutas, eu diria, talvez dos momentos mais importantes de ação e luta da FENPROF. Porque sabia, a FENPROF, que não era algo que pudesse unir os professores todos, mas era algo que, no plano dos princípios, a FENPROF não poderia deixar de assumir. Assumiu, defendeu, lutou e ganhou.» 

 

Tiago Oliveira
Secretário-Geral da CGTP-IN

«Temos, de facto, desafios muito grandes pela frente. Temos uma alteração significativa na Assembleia da República. Temos um Governo que, quem conhece o seu programa de ação, sabe perfeitamente qual é o compromisso que tem, e não é para com os trabalhadores, não é para com os professores, não é pela elevação das condições de vida e de trabalho, é pela resposta a alguns, a uma minoria, e não é para responder à maioria, que são os trabalhadores, que são os professores, que são todos aqueles que diariamente fazem falta no seu local de trabalho, para permitir que o país ande para a frente. (…) 

A luta, que tem sido desenvolvida pelos professores pela valorização da carreira, tem sido uma luta que tem servido de farol para muitos. E assume-se particular responsabilidade, agora, de darmos continuidade a essa luta.

E, nesse sentido, em nome da CGTP-IN, a principal questão que eu queria aqui deixar é: muita força, muita confiança, muita solidariedade. Acreditem neste nosso projeto, no movimento sindical unitário, porque juntos vamos conseguir. Muita força na nossa luta.» 

 

José Feliciano Costa
Presidente da Direção Central do SPGL

«Camaradas, 

hoje passam 50 anos, do dia em que se realizou aqui neste local a maior Assembleia Geral de Professores, realizada no nosso país e que depois pela exiguidade do espaço como sabemos se deslocou para o Pavilhão dos Desportos, e é depois nesse local que nasce o que é hoje o Sindicato de Professores da Grande Lisboa.

Evidentemente que não surge por acaso não surge do nada, existe um trabalho um percurso que é já feito em plena de ditadura por homens e mulheres que com ousadia e muita coragem ousaram exigir, reivindicar pelos seus direitos por melhores condições de trabalho.

Foi de facto o nascer de este amplo movimento por todo o país, que criou os Grupos de Estudo do Pessoal Docente do Ensino Secundário (GDEPES) em 1969, que permitiu semear essas raízes esse embrião.

(…) Mas o caminho é também o futuro, hoje tivemos aqui a intervenção de dois jovens, os professores e professoras dos Grupos de Estudo, eram também jovens e foram eles que tomaram a iniciativa, ou como também se diz agarraram o touro pelos cornos.

Claro que os tempos são outros vivemos, felizmente em democracia, mas existem muitos problemas por resolver, também por exemplo a precariedade nestes jovens de hoje.

E nós temos que ir ao encontro deles, dos mais novos, trazê-los para o movimento sindical, e, nós fazemo-lo, mas precisamos de ir mais longe.

Claro que o contexto não é fácil, um corpo docente envelhecido, os jovens não são atraídos para a profissão docente e isto não ajuda.

Também hoje a predominância do emprego precário, que leva à informalidade, à individualização, ao próprio desconhecimento sobre o papel dos sindicatos, também alguma despolitização enfim.

Mas esses são desafios que temos de vencer sem receio, temos de passar responsabilidades, passar o testemunho, e isso implica mostrar que há alternativas, que estas estruturas os sindicatos, representam também os mais jovens, os seus interesses e os ajudam a alcançar melhores condições de vida.

 Ir às escolas com algum incentivo para a sindicalização, adequar o discurso aos mais novos e dizer nós estamos aqui para o que for preciso.

É o grande desafio que temos agora para os próximos 50 anos, para que este continue a ser o maior sindicato de professores em Portugal.» 

Texto original publicado no Escola/Informação n.º 308 | maio/junho 2024