As tendências totalitárias
A 8 de Maio comemorou-se os 75 anos do fim do holocausto nazi. Porque vivemos “mergulhados” não só no confinamento, mas também num dilúvio noticioso em que a covid19 nos submerge, a verdade é que não se deu a esta efeméride o relevo que devia ter tido. Para lembrar e para ensinar os mais novos sobre um período negro e recente da história da humanidade. Porque fascismo, nunca mais!
Se trago esta data aqui é porque na semana passada ocorreram dois casos que não devemos esquecer e que nos devem pôr em alerta para as tendências totalitárias que espreitam e que em períodos de crise como aquele que vivemos, com mais facilidade conseguem vingar.
Primeiro, o desejo de André Ventura do CHEGA de querer pôr a comunidade cigana em confinamento! Ouviu, ouvimos as palavras certeiras de Quaresma, não gostou e achou-se no direito de querer calá-lo porque, segundo Ventura, um jogador da selecção não tem o direito a emitir opiniões políticas.
Segundo, o eurodeputado Nuno Melo questionou os critérios ideológicos da telescola, por numa aula de História e Geografia de Portugal ter sido exibido um excerto de um programa televisivo de Rui Tavares sobre a Exposição do Mundo Português. Os tweets estão na moda – Donald Trump decreta tweetando – e Nuno Melo usou esta rede social para se insurgir por se transformarem “os alunos em cobaias do socialismo” e estar em marcha com o Estudo em Casa uma “aviltante e ignóbil revolução cultural”. Tal como Ventura, Nuno Melo acha que a política é só para eles. Os deputados do CDS questionaram o ministro da educação sobre se é “aceitável a escolha de um político, independentemente do partido a que pertença, para ministrar aulas neste projecto.”
Ao que isto chegou! Primeiro com pezinhos de lã. Depois, com os estragos da crise e o descontentamento social, acenar com fantasmas e encontrar culpados. Seguidamente, cavalgar a onda do descontentamento e impor a sua lei e a sua ordem. A história repete-se. Os inimigos da democracia utilizam-na para a tentar destruir. O populismo é isto. O fascismo é isto.
“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.”
(Bertolt Brecht)
Fascismo nunca mais!
Almerinda Bento