Ano lectivo arranca com número recorde de professores a reformarem-se
Na sua edição de domingo, dia 4 de setembro de 2022 o Público volta a abordar a questão do número de professores que se irão reformar atingindo um número recorde. Este artigo é da responsabilidade de Daniela Carmo.
Segundo esta jornalista: ”O ano lectivo vai arrancar com um novo máximo de professores e educadores de infância a aposentarem-se".
Com início marcado para o período de 13 a 16 deste mês, as aulas começam com menos 257 profissionais do que os que, até ao mês passado, estavam no activo nas escolas públicas. Os dados constam da lista mensal de aposentados e reformados da Caixa Geral de Aposentações (CGA).
O PÚBLICO analisou as listas dos últimos sete anos (de 2016 até ao momento presente). Não só Setembro de 2022 marca um recorde no número de aposentados do Ministério da Educação num só mês como os primeiros nove meses deste ano são aqueles com mais educadores e professores a saírem do sistema (1666) desde que António Costa tomou posse para um primeiro mandato.
A falta de professores é um problema já conhecido de anos anteriores, para o qual a FENPROF tem vindo a chamar a atenção dos governantes, mas em relação ao qual nada foi feito.
Este Problema agrava-se com o envelhecimento dos professores e com a fuga dos jovens à profissão docente. As medidas para reverter o problema do envelhecimento dos docentes passam por criar condições de atratividade dos jovens para uma profissão que hoje em dia não valorizada, seja no plano social, seja material; passa, também, por permitir a saída dos mais velhos, abrindo espaços ao regresso dos jovens que abandonaram a profissão; passa por criar incentivos, há muito prometidos, mas nunca concretizados, para a deslocação dos professores para regiões mais carenciadas que, atualmente, são as da designada Grande Lisboa e Algarve.
O PÚBLICO questionou o ME sobre as medidas que estão a ser preparadas para fazer face ao aumento do número de aposentados e à escassez de professores nas escolas, mas não obteve resposta. A mais discutida nas últimas semanas tem sido a revisão das habilitações para a docência, que prevê alargar a base de recrutamento de profissionais para dar aulas.
Como explica o sindicalista Vítor Godinho, membro do secretariado nacional da Fenprof, “os professores estão a ir-se embora antes mesmo de serem substituídos, o que quer dizer que toda a sua experiência não está a ser transmitida à geração seguinte” de docentes, cenário que caracteriza como “lamentável”.
Se, por um lado, a maioria dos professores procura sair quanto antes devido ao desgaste provocado pela profissão, por outro, a tarefa de atrair pessoas novas e rejuvenescer o corpo docente tem-se revelado algo difícil. “Os professores estão a sair sem adiar nem sequer um dia, aliás o que procuram é antecipar esse momento”, diz Vítor Godinho. “Até se podiam manter mais algum tempo se as condições fossem outras.”
E aponta alguns factores que contribuem para essa pouca atractividade: “As condições de exercício profissional, por exemplo, o número de alunos por turma”; “o número de horas de trabalho e a complexidade em gerir a componente lectiva”; e “o serviço muito burocratizado”.
São essas mesmas condições, aliadas à “baixa remuneração e à precariedade”, que afastam os mais jovens. “Não existem jovens interessados em vir para uma profissão em que se sentem desvalorizados”, defende o sindicalista. “Neste momento já temos todas as sirenes a tocar porque já estamos a viver um problema de falta de professores efectivo, não se trata de uma coisa conjuntural e que pontualmente se vai resolvendo.”
Ana Cristina Gouveia