Artigo:Ainda a entrevista do Ministro da Educação

Pastas / Informação / Todas as Notícias

Ainda a entrevista do Ministro da Educação

É incontornável trazer aqui a entrevista do ministro Tiago Brandão Rodrigues, publicada no Expresso de 4 de Julho. Para um ministro tão pouco dado a dialogar com os professores, com os seus representantes sindicais, que tardou a dar orientações, quando o mês de Julho é o mês decisivo para a preparação do ano lectivo, não eram grandes as expectativas, tendo-se confirmado a desilusão quando lemos as respostas que deu às jornalistas que o entrevistaram.

Já sabíamos que era um homem pouco dado a rasgos. Já suspeitávamos que seria ingenuidade esperar que a pandemia o fizesse sair das suas certezas e da sua rigidez habitual. Vale a pena transcrever algumas das suas respostas, não abdicando da leitura integral da entrevista, para que se perceba como o ministro Tiago Brandão Rodrigues encara a Escola Pública e a Educação.

“Os alunos vão caber todos na mesma sala. Não haverá desdobramento de turmas. A única obrigatoriedade é a máscara a partir do 2º ciclo. O distanciamento não.” “As regras para mitigar a propagação do vírus não se reduzem à distância física. A higienização dos espaços e a lavagem das mãos, a etiqueta respiratória e a existência de “bolhas”, isto é, a divisão em grupos para que, se houver um caso positivo, possamos identificar e isolar os que estiveram em contacto com ele, são muito importantes. No 1º ciclo é isso que teremos.”

“Estou convencido de que haverá poucos sítios mais seguros do que as escolas.”

“Quem esteja em grupo de risco é autorizado a ficar em teletrabalho, se possível.”

Apostas em aumento do calendário escolar ou em diminuição dos dias de interrupção das férias intercalares são propostas que não têm correspondência em aumento de qualidade da educação, antes pelo contrário, como está provado por especialistas na área da educação e do desenvolvimento das crianças. A solução não passa por mais horas, mas pela qualidade do que é proporcionado, tendo em conta o direito ao lazer e ao descanso. Quando se sabe que mais de metade do corpo docente português tem mais de 50 anos, fazendo portanto parte do grupo de risco e que o reforço da higienização dos espaços escolares obriga a um reforço substancial de funcionários, um dos grandes calcanhares de Aquiles das nossas escolas, não podemos simplesmente ler as intenções do ministro sem ficar profundamente apreensivos com o futuro das nossas escolas. Nada disto faz sentido nem corresponde às necessidades da Escola e da Educação.

Será que a classe docente vai aceitar pacifica e passivamente a receita que lhe está a ser apresentada? Será que pais, mães, encarregados de educação e restante população acham que distanciamento social é elástico e pode ser descartado quando o ministério não considera fundamental a redução do número de alunos por turma? Que garantias de segurança e de defesa da saúde pública existem neste momento e daqui a dois meses, para que o ministro faça afirmações que desvalorizam a perigosidade do vírus e de as escolas poderem tornar-se verdadeiras incubadoras de propagação de novos surtos epidémicos?

Algumas perguntas para uma resposta. Há que recusar este facilitismo irresponsável.

Almerinda Bento