África: descontentamento, ceticismo e espetáculo
Vale a pena valorizar alguns minutos do dia de hoje (17 de fevereiro) para lermos as seis páginas que o Público dedica à cimeira EU-África, aliás, com chamada na primeira página de um modo muito assertivo: “A cimeira EU-África vai ser um êxito de fachada”, avisa o ex-diretor da Comissão Económica da ONU para África.
A Europa tem particulares responsabilidades para com o continente africano: séculos de colonialismo não foram, ao contrário do que às vezes se apregoa, fator de desenvolvimento do continente, pelo contrário, foram fator de atraso e de exploração infame das suas riquezas, dos seus homens, mulheres e crianças, e das suas potencialidades, ao mesmo tempo que se lhes impunha uma divisão artificial de fronteiras, de acordo com os interesses das potências europeias.
A análise do ex-diretor da Comissão Económica do ONU para África, Carlos Lopes, entrevistado por António Rodrigues (pags 8-9) é marcada por um ceticismo claro: “África precisa de todos e não deve ser tratada de forma infantil” - o título dá o mote. Temas tratados na entrevista: o alívio da dívida da maioria dos países africanos, a necessidade de grandes investimentos que respeitem a autonomia e a independência dos países, o jogo geopolítico entre União Europeia, EUA, China e Rússia, o escândalo do limitado fornecimento de vacinas e de outras questões sanitárias, as migrações. Temas que, segundo Carlos Lopes, serão objeto de uma cimeira “que vai ser um êxito de fachada”, “que não mudará estruturalmente as relações e será, nesse sentido, um pouco limitada aos tais anúncios”.
Por vários motivos, África diz-nos respeito. A leitura destas seis páginas é importante. E preocupante.
António Avelãs