Artigo:Ação de sensibilização em Migrações e Refugiados | E se fosse eu? Educação multicultural é reconhecer e valorizar a diversidade

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Ação de sensibilização em Migrações e Refugiados

E se fosse eu? Educação multicultural é reconhecer e valorizar a diversidade

Um mergulho nas “questões que afetam migrantes e refugiados em todo o mundo e os desafios do acolhimento num novo país”. Este o desafio que reuniu, dia 18 de julho, docentes e investigadores, numa ação de formação online promovida pela FENPROF e dinamizada pelo CPR – Conselho Português para os Refugiados.

Lígia Calapez, Sofia Vilarigues | Reportagem

Ao longo de 3 horas, foram diversos os temas abordados, desde as tendências globais e nacionais à desconstrução de mitos, a turma multicultural, a divulgação e partilha de recursos.

Aqui nos centramos em alguns momentos da iniciativa, particularmente relevantes para os professores. No quadro de “A turma multicultural”, a sua dimensão mais teórica de par de sugestões muito práticas. E, ainda, a diversidade linguística e principais especificidades, as metodologias propostas para o aprendizado da língua (e da cultura) portuguesa. A divulgação e partilha de recursos do CPR, é outro item realçado.

Na sua intervenção de abertura, José Costa, presidente do SPGL, reiterou o empenho da FENPROF “no combate aos discursos de ódio, ao racismo, à xenofobia e a todo o tipo de intolerância”. O que inclui iniciativas como esta: “ações de apoio aos professores e educadores, com o claro objetivo de integração, de imigrantes e refugiados, nas nossas escolas, que hoje já representam uma significativa parcela da comunidade escolar”.

A turma multicultural

A “educação multicultural é reconhecer e valorizar a diversidade que existe entre nós”, introduziu Filipa Silva, educadora do CPR. Aí é importante incluir e representar as culturas “dentro da sala de aula, dentro da escola e, acima de tudo, promover que haja uma equidade”. Também é essencial o desenvolvimento de competências, sendo que “é importante focarmos muito nas habilidades de comunicação intercultural, empatia e respeito pelas diferentes culturas. E um dos elementos que para mim é dos mais importantes é o envolvimento da comunidade”.

“Agora, como é que fazemos isso?”, questionou Filipa Silva. 

Através da integração da diversidade cultural no currículo, da celebração de festividades culturais, de materiais didáticos representativos, de projetos de idiomas e de expressões e de rotinas diárias. Com a participação da comunidade e das famílias.

Como “a inclusão de histórias de diferentes culturas, a música e a dança, trazermos músicas, danças diferentes, aproveitarmos aquilo que estas culturas nos trazem. A comida, então, é uma coisa fantástica. A comida reúne-nos a todos, não é?”

Fazer a celebração das festividades culturais, “as decorações, podermos usar panos coloridos, há famílias que conseguem trazer as suas ideias, as suas identidades, e é importante as crianças dentro da sala conseguirem visualizar essas identidades”.

Os bonecos “serem de diferentes cores, porque a cor da pele é a cor da pele de cada um de nós, e, portanto, há desde o tom mais claro ao tom mais escuro, mas somos todos iguais”.

E, um exemplo importante, “participamos num projeto internacional que se chama Say Hello to the World. É um projeto muito enriquecedor, em que aprendemos muito sobre os países que não são o nosso, e as crianças também fazem a mesma coisa”.

Alexandre Carvalho e Ana Catarina Santos falaram dos recursos.

Ambos convidaram a visitar o “site do CPR, e explorarem os diversos separadores. No separador das Publicações e Estatísticas estão lá os materiais que realmente nos interessam e que nos podem apoiar”.

No site do CPR pode-se ainda ler os “Mitos sobre os Refugiados”.

Existem ainda outros recursos, “nomeadamente do IRC, International Rescue Committee, ou da Agência das Nações Unidas para os Refugiados, a ACNUR, que também poderão ser úteis”. E da Gulbenkian e da AIMA.

[cf. ligações partilhadas no final do presente artigo].

Como incluir?

Como incluir? É a questão de fundo que se coloca quando está em causa o aprendizado da língua portuguesa por uma heterogeneidade de pessoas, de múltiplas nacionalidades, as mais diversas línguas e alfabetos, competências, idades, percursos formativos. Marcados por realidades de grande instabilidade e trauma.

Isabel Galvão, com a sua longa experiência de trabalho no CPR (desde 1997), coloca como primeiro passo, essencial, “pensar e refletir”, reconhecer a diversidade “procurando conhecer mais sobre as outras culturas”, não fazer juízos apressados, “respeitar a identidade dos alunos” e ter consciência “de que foram vítimas de violência e traumas”.  Ter também consciência de que muitas pessoas “não conhecem o nosso alfabeto, ou se viram privadas de um direito humano fundamental”, mas “cada uma dessas pessoas é possuidora de conhecimentos e saberes”. Ter presente “que se encontram num país desconhecido e, portanto, têm muitas barreiras a vencer”. Barreiras sociais, culturais. E muitos códigos a decifrar.

É a partir desta complexa realidade – e de uma pergunta fulcral: “e se fosse eu?” – que se foi desenvolvendo um conjunto de práticas pedagógicas que inclui: a criação e adequação de materiais didáticos, o desenvolvimento de metodologias de alfabetização, a inclusão de uma componente sociocultural, a dinamização de práticas artísticas. Materiais e práticas  - Cadernos de alfabetização, de metodologia e estratégias e de atividades socio culturais – divulgado no site do CPR.

Na apresentação destas práticas pedagógicas, Isabel Galvão, valorizou, nomeadamente, a importância da ligação da imagem à palavra, o trabalhar de uma forma progressiva, partindo sempre de conhecimentos e aprendizagens anteriores. Ou, ainda, a integração de uma sistemática e forte componente sociocultural. As atividades fora da sala de aula (Um dia especial, que traga “bem estar e alegria” e cuja preparação “é quase uma viagem de descoberta”). 

Destaque, ainda, para as práticas artísticas: “Muitas vezes as pessoas sentem que perderam o chão, que perderam a identidade, a autonomia”. E as artes, o teatro, a pintura, a música, a dança, “podem ser uma oportunidade fantástica”.

https://cpr.pt

https://www.rescue.org/uk/article/top-tips-teachers-how-support-refugees-classroom

https://www.unhcr.org/what-we-do/build-better-futures/education/teaching-about-refugees

https://gulbenkian.pt/publications/aqui-eu-conto/

https://aima.gov.pt/pt/a-aima/aprendizagem-da-lingua-portuguesa

Texto originalmente publicado no Escola/Informação n.º 309 | setembro/outubro 2024