Abrir horizontes
Sofia Vilarigues | Jornalista
Fomos falar com o professor José Passos, coordenador do projeto Escola Azul, do Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro, em Oeiras. Deu-nos a conhecer este projeto que aposta na literacia dos oceanos e na transformação pessoal dos envolvidos.
“Notámos que havia muitos alunos que não conheciam o mar. Os alunos vivem muito no bairro, vão até ao Oeiras Parque e pouco mais. E nós temos a ideia que estes miúdos precisam é de sair e de conhecer coisas novas, de ter referências. Então, abraçámos o projeto Escola Azul, de forma a promover a literacia dos oceanos, e no fundo, a importância do mar, da água, da sustentabilidade”, introduziu José Passos.
A importância do fazer
As atividades do projeto passam muito por atividades práticas.
“Os alunos do 6º ano, todos eles, fazem um batismo de vela. Os do 5º ano, as turmas todas, fazem um batismo de canoagem. Do terceiro ciclo e do secundário, não todas as turmas, mas tentamos abranger o maior número de turmas possível, fazem surf. Dentro destes três núcleos de desporto escolar, tentamos que tenham este primeiro contacto com estas modalidades e com o mar”.
Há também, a visita ao Aquário Vasco da Gama, uma visita de estudo num barco tradicional, e já chegaram a ir ver os golfinhos do Sado. Fomentam-se atividades em torno da biodiversidade. Convidam biólogos para falar e fazem visitas virtuais ao Oceanário.
E, há ainda, o Dia da Escola Azul. Um passeio com atividades, com as turmas do 7º ano. “Vão daqui a pé até à praia. Na praia as professoras de ciências abordam a biodiversidade, as rochas. E, depois, fazemos o nosso campeonato, que é as turmas em X tempo apanharem lixo, pesamos o lixo e vemos quem ganha. É aproveitado esse material que recolhem, para depois as colegas de educação visual trabalharem com eles. No Dia do Agrupamento, muitos desses trabalhos são expostos”.
“Sentimos que os alunos ficam mais recetivos, motivados, para tudo o que seja eles terem a experiência de fazer”, avalia José Passos.
“Nem que seja um”
Trabalham um “bocadinho na lógica do projeto. Indicamos temas que os miúdos escolhem, em que se envolvem. E, depois, há os professores das disciplinas que querem participar, normalmente é de educação física, ciências da natureza, biologia, educação visual, geografia, cidadania. Temos também a ver com o Eco-Escolas, que é um projeto que também temos aqui na escola”.
Vai-se completar, no final deste ano de 2025, o sexto ano do projeto Escola Azul.
Um problema sentido, é o da muita rotação de professores. “O que acontece é que às vezes funciona melhor num ano que no outro, mediante a disponibilidade dos professores”.
No secundário são escolhidos dois alunos para Embaixadores da Escola Azul. “São eles que tentam estabelecer uma parceria com todos os alunos, com os professores. Que, de alguma maneira, são os representantes do projeto. São escolhidos os que se envolvem mais nos projetos que tiveram durante o 2º e o 3º ciclo”. Houve um ano que fizeram uma aposta diferente. “Optámos por um rapaz e uma rapariga, que tinham no seu percurso académico algumas dificuldades. Depositámos neles a responsabilidade. Eles chegaram ao final do ano e, não só melhoraram as suas competências sociais, como se envolveram no projeto e conseguiram até, em termos de sucesso escolar, alcançar resultados que nem nós professores estaríamos à espera que eles alcançassem”.
Não foram só nestes que se sentiu evolução. “Sentimos evolução em todos, nuns mais que noutros, e sabemos que também há uma pequenina franja que tem dificuldade em evoluir. Mas o que nós achamos é que, nem que seja um que tenha conseguido evoluir, tenha conseguido estabelecer laços de pertença, tenha conseguido abrir horizontes, tenha adquirido algumas competências sociais que não tinha, nós já nos damos por satisfeitos”.
“A partir do momento em que conseguimos criar uma ligação com eles, um laço, começam a ver-nos como referências”, avalia.
A Escola Azul foi um desafio lançado pela Câmara de Oeiras, que apoia o projeto. Têm parceiros como o Aquário Vasco da Gama e o Centro Náutico de Paço de Arcos.
À saída desta entrevista pudemos ver um mural pintado da Escola Azul, numa parede da escola. Uma marca do projeto.
Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 45 | março 2025