Artigo:a voz a quem entra | Rafaela Lopes

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a voz a quem entra | Rafaela Lopes

Rafaela Lopes, de 25 anos e com um mestrado em Literaturas e Culturas Modernas ainda é confundida com uma aluna, mas não se confunde nas suas ideias. 

Sara Covas (SC) - Um dos motivos que referiste para a tua sindicalização, foi a necessidade dos trabalhadores estarem organizados e esclarecidos. O que te preocupa mais com o novo pacote laboral? 

Rafaela Lopes (RL) - O novo pacote laboral preocupa-me enquanto trabalhadora, ponto final. Digo isto, porque há uma grande divisão entre os trabalhadores, dependendo da área e, muitas vezes, se são do setor público ou privado. Eu acho que tudo isto são distrações para lutarmos entre nós em vez de nos unirmos. Aquilo que afeta um trabalhador do setor privado pode muito bem vir a afetar um trabalhador do setor público, especialmente com governos como este. Estamos habituados a ouvir falar na segurança e estabilidade do setor público, no entanto, a ameaça que o pacote laboral faz é muito clara e começa pelo privado, mas não vai ficar por aí. É difícil de pegar numa só coisa que me preocupa neste pacote, porque são tantas. Podemos falar do atentado que tem vindo a ser feito às famílias portuguesas e que irá ficar cimentado em legislação se o pacote laboral for para a frente. Mais grave ainda parece-me a questão dos despedimentos sem justa causa em que um trabalhador não se pode sequer defender. É um pacote que prioriza sobretudo os patrões e as empresas, sendo totalmente desequilibrado e prejudicial a uma sociedade que se preza como moderna e desenvolvida. Enquanto jovem assustam-me muito estas medidas e fazem-me ponderar seriamente a opção da emigração, embora esteja a lutar tanto para ficar cá apesar de um mercado de trabalho cada vez mais hostil.

SC - Começaste a dar aulas este ano e logo com cursos profissionais. Como tem sido a experiência?

RL - Bem, honestamente tem sido complicado, mas ao mesmo tempo sinto que é esta a minha vocação e quero ficar. (…) Eu vim para tentar contribuir para uma mudança de abordagem, para tentar inovar e chegar aos alunos. (…) Tem sido muito confuso, há falta de informação e muita burocracia. Sinto-me desamparada, porque os colegas ajudam muito, mas não conseguem fazer tudo e o sistema não ajuda. Precisam de mim, no entanto, tenho uma posição precária e o caminho para a profissionalização é incerto. E sim, mesmo assim, apesar de tudo, há sempre bons momentos que vão ficar sempre no coração.

Texto original publicado no Escola/Informação Digital  n.º 47 | novembro/dezembro 2025