Artigo:A Tática de Rui Rio

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A Tática de Rui Rio

Passa por estar calado sobre muita coisa, para não assustar o tão almejado centro político, constituído por muitos daqueles cuja vida infernizará, caso ganhe as eleições em modelo de geringonça à direita.

Ou seja, a velha e sempre eficaz manha do polícia bom/polícia mau, permitindo-lhe justificação futura por opções arrojadas de privatização e liberalização de funções sociais na esfera do Estado pela necessidade de fazer cedências aos seus parceiros de governo ou parlamento.

Obviamente, falamos também das tão apetecíveis áreas da Saúde e Educação, a primeira com investimentos privados de grande envergadura a acontecerem já (veja-se o novo hospital da CUF a nascer em Leiria), a segunda a aguardar um enquadramento político mais favorável que possibilite a abertura massiva de novas turmas e  aplicação do princípio da liberdade de escolha.

Este ardil do presidente do PSD é particularmente visível hoje, em artigo do Público na página 12, quando se pergunta aos líderes partidários o que pode ser feito para melhorar o Sistema Nacional de Saúde. Repare-se na resposta na sua versão integral:

“Nós temos de ter no SNS, antes de mais, um modelo de gestão diferente: mais organização, mais planeamento, melhor gestão dos recursos humanos. Isto é o que nós temos de fazer. Antes de, eventualmente, até pôr lá mais dinheiro — porque Portugal gasta mais em Saúde do que a média dos países da Europa e presta um serviço pior, que, aliás, tem-se degradado imenso. Depois, o fundamental é, dentro desse novo modelo de gestão, conseguirmos a optimização dos recursos que já temos disponíveis e que não estão a render aquilo que deveriam render, face ao investimento — e bem — que o país faz na Saúde.”

Ou seja, nada sobre as tais cativações ou o desinvestimento contínuo no SNS ao longo do tempo, que poderia explicar um pouco da putativa “falta de qualidade”, mas, ainda mais significativamente, nada sobre como resolver o problema, contrastando claramente com as respostas dos outros líderes partidários, que apresentam alguns compromissos no mesmo artigo do Público, de que destacamos alguns do presidente da Iniciativa Liberal, João Figueiredo:

“Uma é que precisa de ser introduzida a liberdade de escolha por parte de quem utiliza o serviço. Deve poder escolher o hospital a que quer ir, seja ele público, privado ou social. E depois o Estado, devendo continuar a financiar o sistema, não pode ser o único prestador de serviços de saúde. A liberdade de escolha e a concorrência de prestadores é absolutamente essencial para acabar com as listas de espera, para podermos aumentar a qualidade dos serviços, para termos melhor enfoque na medicina preventiva”.

Ou seja, algo que se possa entender, mas também algo que 90% do aparelho do PSD desejará, com exceção daqueles que ainda acham iludidos com a ideia de que se trata de um partido do centro e que, por isso, Rui Rio vai realmente manter certos serviços fora da lógica do lucro. Entre eles, temo que se encontrem um número significativo de professores que querem continuar a ser professores, e não subir de posto. A esses, reservo o parágrafo que se segue.

Contudo, sabemos o que foi o passado recente do PSD na educação e na função pública em geral, bem exemplificado numa lei da requalificação dos funcionários públicos que mais não era do que uma roçadora para abrir espaço a novos mercados e novos patrões, de que Calvete e companhia se tornaram símbolos. Dinheiro para construir colégios ao lado de escolas públicas é o que não falta, nem licenciados precários para empregar ao custo aproximado de caixa de supermercado, bastando, para isso, abrir a caixa de Pandora no Parlamento com a gazua da lei.

João Correia