Artigo:A Matemática tem de deixar de ser um “papão”

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A Matemática tem de deixar de ser um “papão”

Escrever esta nota à segunda feira tem a vantagem de poder aproveitar o que se publicou no fim-de-semana. São só vantagens…

Ontem, domingo, 7 de junho, o Público destacava na sua 1ª página “Um terço dos alunos do 9º ano passa com negativa a Matemática”, tema que desenvolvia nas páginas 12-13, aí mostrando que dos que passaram para o 10º ano “cortados” a Matemática, “só 18% consegue recuperar” (mas deve ter-se em conta que boa parte dos que “chumbaram” a Matemática no 9º ano não escolhe essa disciplina no 10º ano). O mesmo texto sublinha que entre os que ficaram “retidos” no 9º ano e repetiram todas as disciplinas, na Matemática “só 30% passam a ter positiva”.

Dada a importância que a Matemática tem para o desenvolvimento de quase todas as áreas científicas, e mesmo no campo das ciências económicas e sociais, esta situação é preocupante, tanto mais que, o documento (da DGEEC) mais recente mostra que o cenário não só se não inverteu como, quando é analisado a médio prazo, tem vindo a agudizar-se”.

A situação no ensino da Matemática em Portugal é deveras singular. É a disciplina com maior carga horária para os alunos e em muitas escolas se destina a esta disciplina as horas que houver disponíveis, com claro menosprezo para todas as outras (aqui e ali com exceção do Português). Mas é também a área (creio que é caso único) em que duas entidades ligadas ao ensino da disciplina se confrontam com posições contraditórias: a Associação de Professores de Matemática (APM) e a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM). A primeira contestando radicalmente as medidas que Nuno Crato quis introduzir no ensino da Matemática – de resto sem resultados visíveis -, medidas que a segunda defende categoricamente…

A situação é preocupante, sem dúvida, mas não é exclusiva de Portugal. Aliás, o Relatório Nacional do IAVE sobre os dados do PISA 2018, no que respeita à literacia em Matemática, constata que “Portugal obteve 492 pontos(…) no ciclo de 2018, três pontos acima da média da OCDE” e que “Verifica-se um aumento significativo de 26 pontos relativamente a 2003 e de 5 pontos relativamente a 2012” e um aumento menor (0,9) entre 2015 e 2018, enquanto que a evolução dos países da OCDE no mesmo período registou uma tendência negativa, ainda que ligeira.

É imperioso que ao nível da formação (inicial e contínua) de professores, do 1º ciclo ao secundário, se reveja o que se passa, porque a Matemática, quer pela sua importância estratégica no conhecimento, quer pela sua beleza formal, não pode continuar a ser o papão de que se foge logo que possível.

António Avelãs