Artigo:A LEGITIMAÇÃO POLÍTICA DA MENTIRA

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Causa-me particular apreensão a tese recentemente defendida por Passos Coelho de que, uma vez eleito, o governo pode tomar as medidas que julgar convenientes desde que não sejam ilegais, isto é, desde que não contrariem a Constituição. PPC finge esquecer que, ao candidatarem-se, os partidos apresentam um programa e é com base nele que recebem o voto. Governar em sentido contrário ao programa com que se foi eleito é enganar os eleitores, é dar “corda” à máxima popular de que “os políticos são uns aldrabões, o que querem é ir para o poleiro e depois fazem o que lhes apetece para se governarem”. Ninguém legitimou Passos Coelho para os brutais aumentos de impostos, para os cortes salariais e dos subsídios porque o programa com que se apresentou aos eleitores não dizia nada disso, e toda a campanha foi feita dizendo exatamente o contrário. Como ninguém o legitimou para destruir o estado social, intenção com que iniciou o ano de 2013.

Além da crise económica e do desastre social por ela provocado, há também uma profunda crise da democracia. Legitimar a mentira como meio de acesso ao poder é a destruição do sentido nobre da política. É a glorificação do oportunismo.