Artigo:A FOME, UM “DANO COLATERAL”

Pastas / Informação / Todas as Notícias

António Avelãs

Um secretário de estado da área da Educação reconheceu frontalmente que mais de  dez mil crianças do ensino básico chegam à escola com fome e muitas delas é apenas lá que conseguem alimentar-se. É provável que o número seja bastante superior, a que deve somar-se o número de crianças subalimentadas. Várias câmaras, entre as quais a de Lisboa, tomaram já medidas excecionais e disponibilizaram verbas para amenizar este flagelo. Todos os docentes sabem, por experiência, as consequências que este estado de miséria tem no aproveitamento e na disciplina.

A fome visível nas nossas escolas permite avaliar a miséria e a fome que atravessam largas faixas da sociedade portuguesa. Não quero dizer que os governantes não se preocupem com a existência da fome. Também para eles era melhor que não houvesse. Mas consideram-na tão só como um “dano colateral”. Tal como nas guerras a morte de civis num bombardeamento que se pretende cirurgicamente orientado para alvos militares são “danos colaterais”, isto é, lamentam-se mas não podem perturbar os objetivos a atingir, também para o governo PSD/CDS a fome é um dano colateral. Atrapalha, deve lamentar-se, mas mais importante que isso é cumprir o memorando da troika, facilitar os despedimentos, baixar salários… O número de portugueses abaixo do limiar de pobreza chega já aos 30%! E perante estes dados que envergonham qualquer país que se pretenda socialmente europeu, o governo e a troika continuam a vangloriar-se  de que tudo está a correr muito bem, como estava previsto. Quase se pode concluir que a fome já fazia parte das previsões