Artigo:“A falta de professores como ameaça de colapso do sistema educativo”

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“A falta de professores como ameaça de colapso do sistema educativo”

 

No passado dia 9 de março, o Público divulgou um excelente artigo de opinião de Carlos Ceia intitulado  “A falta de professores como ameaça de colapso do sistema educativo”, onde, à semelhança do que os sindicatos de Fenprof têm denunciado, o autor assume claramente que o cenário para os próximos anos é catastrófico.

A necessidade de renovação do quadro docente há muito que foi diagnosticada, tendo sido, a título de exemplo, sublinhada, em 2014, no texto introdutório do DL n.º 79, que regula a formação inicial de professores. Contudo, desde o início deste século, os cursos que garantem a formação inicial dos docentes foram fechando ou foram sobrevivendo com muita dificuldade, sem que tenha havido investimento estratégico nesta área, ignorando-se, deste modo, os estudos publicados sobre o assunto.

Atualmente, os cursos de formação de professores são em número muito reduzido, não existem incentivos nem apoios para os orientadores nas escolas e os estágios não são remunerados.

O ministro da educação anunciou que, no próximo ano, regressaríamos aos estágios remunerados. Porém, para Carlos Ceia, é humanamente impossível, considerando que:

  • “é necessário um plano de revisão de todos os planos de estudo em vigor (não está feito nem ninguém sabe quais possam ser as novas directizes);
  • é necessário um plano financeiro para as instituições de ensino superior para suportar essa mudança, recrutando mais docentes, pois o actual contingente é manifestamente reduzido;
  • é necessário um plano de pagamento justo aos professores cooperantes das escolas básicas e secundárias onde esses “estágios remunerados” vão funcionar;
  • é necessário um plano sério para que o previsível ano de indução (após o mestrado) seja efectivamente um ano de complemento de aprendizagens científicas que vão ficar de fora, obrigatoriamente, num modelo de mestrados em ensino com um ano de estágio completo nas escolas;
  • é necessário um plano de integração de outras formações no processo de formação inicial, quando os candidatos possuem já habilitações obtidas no estrangeiro ou em áreas próximas da disciplina para a qual pretendem adquirir habilitação profissional (são cada vez mais os candidatos com este perfil).”

Como todos testemunhamos, a falta de professores nas escolas é um problema que atinge toda a comunidade educativa e o país está a desperdiçar uma última oportunidade de formação em contexto real, permitindo que a maior parte dos docentes se aposente, num estado de exaustão e desalento, sem que haja a renovação dos profissionais e a transmissão da sabedoria que advém da experiência.

Acresce, ainda, dizer que o problema se encontra a montante, pois raros são os jovens que, com o conhecimento direto da situação, resultante da observação direta, manifestam a intenção de serem professores.  O Ministério da Educação pode criar todas as estratégias possíveis e imagináveis, mas, enquanto os professores não forem respeitados e a carreira não for atrativa, não haverá candidatos em número suficiente para desempenharem as funções docentes e caminhamos a passos largos para o “colapso do sistema educativo”.

Paula Rodrigues