Artigo:A crise da democracia e a geração menos preparada

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A crise da democracia e a geração menos preparada

No Público de sábado, dia 5 de novembro, aparece com a assinatura de José Pacheco Pereira, o artigo de opinião ”A crise da democracia e a geração menos preparada.”. Escolhi-o para notícia do dia, devido à sua pertinência e atualidade do seu conteúdo. Como aí se afirma: “Há muitos factores que explicam a crise actual da democracia, os mais importantes têm que ver com os estragos na qualidade de vida, mas também na dignidade da vida, de muitos milhões de pessoas nos países onde há democracias”.  

Continuando o seu raciocínio José Pacheco Pereira afirma que:

um dos aspectos que estão no cerne da actual crise da democracia é exactamente uma crescente degradação dos factores culturais, de mundivisão, aquilo a que os alemães chamam Weltanschauung, que implica uma ideologia da democracia, ou seja, saber-se o que se deve fazer e, talvez mais importante, o que não se deve fazer.

Isso implica educação, saber, vontade de saber, ler, ouvir e ver com olhos de ver, procurar informação, reconhecer desinformação, falar com voz alta quando é preciso, e ser prudente na fala também quando é preciso, reconhecer o valor da privacidade, não ir em ondas mediáticas e da moda, nem fazer como a Maria “que vai com as outras”. Implica ter um vocabulário que não seja gutural, feito com meia dúzia de palavras, e uma capacidade de se exprimir, que vem, entre outras coisas, de ler, e não do TikTok, nem dos reality shows, nem da fala que nunca se cala do futebol.”

E prossegue o autor: “A informação é substituída pelo consumo do “engraçadismo”, pelo desprezo pela privacidade, pela raiva, pela calúnia, pelo comportamento em matilha, pelo julgamento imediato, pelo desprezo pelo outro, sem qualquer esforço sequer para perceber os seus argumentos, tudo substituído pelo prazer narcísico de ler, ouvir e ver apenas aquilo com que se concorda. Rodeados de devices que os prendem num presente inescapável, de mensagens para ler e escrever, vídeos virais, jogos sem fim, incapazes de deixarem os telemóveis um segundo, com uma sociabilidade mais virtual do que real, têm uma vida pobre, com muito mais exclusão do que sequer se apercebem. A seu tempo ficarão deprimidos, a doença psicológica da preguiça e da facilidade de viver num mundo muito pouco fácil.”

Vale a pena ler o artigo todo e pensar sobre a suposta existência desta geração mais preparada para defrontar a crise da democracia, mas que é, bastante indiferente no que consome e produz.

Em jeito de conclusão termino com mais algumas palavras do autor deste artigo:

“Trump e Bolsonaro são assim, e parte do seu sucesso vem de serem assim, como se essa rudeza, imbecilidade argumentativa, soberba pessoal, anti-intelectualismo militante, hipocrisia religiosa, machismo, violência e agressividade permitissem uma identificação com muitas pessoas que lhes são iguais no mesmo movimento de poder e exclusão.”

“E isto cresce.

 

Ana Cristina Gouveia