Artigo:A brincar também se aprende

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Aproxima-se uma época em que os vários spots publicitários induzem, ainda mais, ao consumo. Muita desta publicidade é dirigida em especial às crianças que, desde cedo, começam a ser matraqueadas com anúncios na televisão e noutros meios de comunicação a elas dirigidos.

Na verdade, a brincar também se aprende e aprende-se a ser adulto; aprende-se imitando e reproduzindo papéis sociais. Para esta função temos o auxílio de muitos brinquedos e jogos que mais não fazem que perpetuar e reproduzir as funções sociais atribuídas aos homens e às mulheres. Neste período basta passarmos por uma loja de consumo infantil e logo veremos alinhados, em prateleiras separadas, brinquedos para meninos e para meninas. Que brinquedos para meninos e que brinquedos para meninas? No caso dos primeiros são certamente brinquedos e jogos de acção, aventura, automóveis, bolas, etc. No caso das meninas, veremos, nas prateleiras, brinquedos que perpetuam as funções sociais e modelos de beleza que se espera que elas continuem a desempenhar: bonecas elegantes, cozinhas, bonecos representando bebés, electrodomésticos em miniatura. Toda esta gama mais não visa que preparar as crianças para a vida adulta e é já nas brincadeiras que estes estereótipos se fazem sentir, aliás também muito veiculados através das cores: azul para meninos e cor-de-rosa para meninas. 

A educação, mesmo a não formal, deve ser no sentido de alterar mentalidades e terminar com discriminações, no acesso ao que cada um/a pode e deve fazer. As diferenças são biológicas, as desigualdades são sociais. Não se pretende nivelar as diferenças, as pessoas são diferentes entre si e essas diferenças devem ser respeitadas. O que não pode, nem deve, acontecer é cristalizar diferenças que são criadas apenas no âmbito social, promovendo, com isso, que homens e mulheres estejam em patamares diferentes no acesso à igualdade de oportunidades. Este acesso não pode ser condicionado, mas não é isso que acontece, já que, desde cedo se incute nas crianças que meninos não podem brincar com bonecas ou meninas não podem brincar com carros. Na informalidade e porque a brincar também se aprende, tentemos nesta época, senão conseguirmos escapar ao consumismo, que isso sirva para uma mudança de mentalidades não formatando as brincadeiras e formas de aprendizagem através da reprodução de estereótipos que em nada promovem a livre escolha. 

As várias vertentes da vida são possíveis e acessíveis a todos e todas independentemente do factor género. Porque na vida não existe um único e exclusivo modo de viver. Limitar ou ocultar um dos lados é viver pela metade.

(Este texto foi publicado no EI nº 241 - Novembro 2010)