Artigo:A bravura das mulheres abalou a nação e o regime iraniano

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A bravura das mulheres abalou a nação e o regime iraniano

No Público de sábado, dia 24 de setembro, surge com a assinatura de Guilherme Pinheiro, este artigo que refere que o Irão está submerso numa onda de protestos na sequência da morte de Mahsa Amini, uma jovem curda pelas mãos da chamada “polícia da moralidade”. Alegadamente, a mulher de 22 anos, vestia mal o hijab, lenço islâmico que deveria cobrir todo o cabelo da mulher e o pescoço. 

Arash Azizi, escritor, académico e tradutor iraniano a viver em Nova Iorque, afirmou ao PÚBLICO que no Irão, neste momento, existe “um sentimento de raiva perante o regime”.

Neste momento já morreram, pelo menos, 16 pessoas.

Para este escritor, a morte de Amini foi a “gota de água” sobre as regras que as mulheres estão obrigadas a cumprir e, por consequência, a “bravura” apoderou-se delas.

Num Portugal onde a violência doméstica contra mulheres está ainda tão presente, num mundo em que tanto se tem vindo a falar de direitos humanos, não consegui ficar indiferente à luta destas mulheres e à sua bravura e por isso mesmo, destaco a pertinência deste artigo

 O regime iraniano é singular na sua tentativa de controlar todas as esferas da vida social, e até privada, dos seus cidadãos. Para esse efeito tem um organismo específico: a polícia da moralidade. Este regime usa este controlo social como ferramenta de repressão para manter as suas regras corruptas

Como afirma o jornalista a “polícia da moralidade” desempenha esta função atacando regularmente mulheres que se desviem do código imposto, segundo o qual têm de cobrir todo o seu corpo, inclusivamente o cabelo, à excepção das suas mãos. Historicamente, na década de 1980, a “polícia da moralidade” impôs também regras estritas aos homens, que, por exemplo, não eram autorizados a usar T-shirts.

Cortar o cabelo e queimar hijabs. Simbolicamente, o que significa isto?

É uma revolução muito liderada por mulheres. As mulheres têm sido as principais vítimas deste regime, por isso não é surpresa que também estejam a liderar a revolta contra ele. Por se terem juntado neste movimento, a bravura que demonstraram veio abalar verdadeiramente a nação e o regime.

Os manifestantes têm sido claros. Estão a pedir o fim do regime iraniano. Gritam “morte ao ditador!” e “morte a Khamenei!”. A morte de Mahsa Amini é simbólica nesta revolta perante todo o aparelho de repressão. É uma causa próxima dos protestos e não a sua razão fundamental. A razão fundamental é o fracasso absoluto do regime: trouxe empobrecimento económico e violação dos direitos humanos em larga escala. As pessoas querem que o regime desapareça.

O regime respondeu da forma habitual com repressão feroz e brutalidade. Matou dezenas de pessoas e culpou os manifestantes, prendendo muitos deles e forçando outros tantos a mostrarem-se arrependidos pelas suas acções em directo nos canais estatais de televisão. Contudo, protestos nas ruas são sempre difíceis de prever. É muito provável que comecem a perder o ímpeto, embora já tenham começado há cerca de uma semana e continuem a ficar fortes em todas as regiões. Mas a morte, a brutalidade policial e a repressão podem sempre pôr um fim a uma onda de protesto.

Eu pessoalmente gostaria que tal não acontecesse!!

Ana Cristina Gouveia