96% de abstenção nas eleições para o Conselho Geral e de Supervisão da ADSE
Entre os dias 28 e 30 de novembro, votaram 4,07% do total dos beneficiários com direito a voto, ou seja, 37 880 em 929 626.
A CGTP elegeu dois dos quatro lugares dos representantes dos beneficiários para o Conselho Geral e Supervisão.
Tamanho nível de abstenção deve merecer alguma atenção de todos nós, pois os riscos “existenciais” em que a ADSE incorre são tremendos, sendo de comum bom senso que um dos principais perigos que se coloca a este tipo de organização é a instalação no seu interior de possíveis cavalos de Tróia ao serviço dos interessados no seu desmantelamento e substituição por lucrativos seguros de saúde.
Não haja ilusões quanto ao contexto em que vivemos. Por todo o lado, muito em especial nos setores do imobiliário e da saúde, rios de dinheiro entram em Portugal vindos dos fundos de investimento, à procura de “bons negócios”, numa espécie de paródia hiper-capitalista às Descobertas, sendo que, para desgraça do português médio, todo o dinheiro a entrar acaba por, de uma maneira ou outra, parecer amaldiçoado, à semelhança do ouro colonialista. É que nada destes fluxos financeiros representa melhores salários ou pensões, melhorias da condições de vida, redundando certamente em rendas de casa mais altas e, no caso da saúde, uma permanente ameaça de que, um dia, a saúde será como nos EUA: cara, inacessível, porque os poderosos deste mundo decidiram que já chega de utopias acerca da universalidade e gratuitidade.
Estes níveis de abstenção podem até ser habituais, mas deveriam deixar de o ser, pois são um sinal de que há demasiada gente inconsciente do real valor da ADSE para as suas vidas.
Haja alguém que ponha a ADSE no mapa dos interesses dos seus beneficiários, a ponto de merecer, pelo menos, os minutos necessários para por uma cruzinha no boletim de voto, em casa, confortavelmente.
João Correia