45 anos depois do assassinato de Max e Lurdes
Folheio o jornal da manhã à procura de inspiração para a Notícia do Dia. Para além da peça sobre o restauro dos Painéis de São Vicente com destaque especial no “Público” de hoje, as vacinas aconselhadas ou desaconselhadas, a desaceleração rápida dos contágios associada ao fecho das escolas, o sufoco que vai continuar nos cuidados intensivos, as novas variantes, as datas a reter por causa do IRS… encontro finalmente na página 12 um artigo de Luís Fazenda com o título: 45 anos depois do assassinato de Max e Lurdes.
É sempre um gosto ouvir e ler Luís Fazenda. Certeiro, claro, profundo, ajuda-nos a focar-nos no essencial e abstrair-nos do ruído que nos sufoca e distrai. Invoca o assassinato do padre Max e da estudante Maria de Lurdes quando regressavam das aulas de alfabetização que gratuitamente davam a adultos na Casa do Povo. O carro em que seguiam explodiu com uma bomba colocada pelo MDLP, prática a que esta associação terrorista se dedicou em 1975 e 1976 tendo por alvo sedes de partidos, sindicatos, casas de militantes antifascistas, num sinal claro de ódio ao 25 de Abril. O acto terrorista que pôs fim às vidas de Maximino Barbosa de Sousa e Maria de Lurdes Pereira ocorreu a 2 de Abril de 1976, no mesmo dia em que foi proclamada a Constituição, a nova Constituição saída de Abril.
45 anos depois, em plena pandemia e num cenário de recrudescimento de propaganda reaccionária e de figuras que são inimigos confessos da liberdade e dos valores inscritos na Constituição, não podemos condescender com eles, sob pena de retorno a um passado sinistro. A resposta aos problemas da pobreza, das desigualdades e da crise que se vai agudizar, assim como a defesa dos valores da Constituição são a melhor forma de tirar espaço e combater esta vaga reaccionária que também nos está a bater à porta.
Termino, transcrevendo o último parágrafo do artigo de Luís Fazenda: “Este artigo é um apelo. Certamente, muitos cidadãos vão assinalar os 45 anos da Constituição, também a 2 de Abril. Antes disso, e até para isso, podemos recordar Max em homenagem nacional, a vontade indómita de levar a democracia mais além, o estremeção que falta para a agonia da política boçal. Invoca-se e convoca-se a memória. Ela é estridente. Ouçam, é o que se pede a todas as cores da democracia.”
Vale a pena ler todo o artigo de Luís Fazenda.
Almerinda Bento