Artigo:25 de Abril em Luanda

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25 de Abril em Luanda

Luanda. Fim de tarde. Fim de um dia de escola para mim, e escola ou jardim infantil para os quatro filhos. Aula de natação para os três mais velhos. Tomo, finalmente, um café sozinha, com o bebé.

Aproxima-se um conhecido, branco claro, cujos filhos frequentavam a mesma escola: “Ouviu as notícias? Passa-se alguma coisa em Portugal!»

Fui para o carro ouvir o rádio. Passava-se alguma coisa. Havia diferença. E o meu marido fora, a 400km, lá para o Norte, no Ndalatando. O que fazer? Como saber? E… porque não? Comprei frango assado e fui com os filhos comer para casa dum casal amigo. Resolvi vencer a timidez, o isolamento, a corrida alucinante de cada dia.

E depois tudo se precipitou: os brancos revolucionários a organizarem-se; os brancos conservadores a formarem grupos contrarrevolucionários pela independência branca de Angola, seguindo o modelo da Rodésia e o apartheid da África do Sul.

Seguiram-se tempos fora do tempo, duma grande tensão, de exaltação e medo, de protegermos as crianças, alvos fáceis para gente sem escrúpulos. Grupos de colonos, verdadeiros ‘esquadrões da morte’, incendiavam durante a noite musseques, assassinavam indiscriminadamente homens, mulheres, crianças negras, ameaçavam os brancos que lutavam pela independência ao lado dos negros.

O governador S.S. Marques, em rota de contrarrevolução. Depois a sua substituição pelo almirante Rosa Coutinho, do MFA, num ganho claro dos bons ventos da liberdade.

A Angola chegava o eco do que se passava em Portugal. Um eco muito esbatido que trazia a esperança.

Mas só em Outubro desse ano será assinado o cessar-fogo. Começa-se a respirar futuro.

A primeira delegação do MPLA chegará em Novembro e Agostinho Neto, presidente do MPLA, o único movimento com provas dadas de luta e consistência nos seus objetivos, só em 4 Fevereiro do ano seguinte, 1975, entrará em Luanda.

Os poderes internacionais aproveitavam, abusivamente, dos choques entre os três ‘movimentos de libertação’, MPLA, FNLA e UNITA, entretanto injustamente reconhecidos por Portugal duma maneira igual.

Não nos podemos esquecer que era o tempo da ‘guerra fria’. Os Estados Unidos e as forças conservadoras internacionais, arvorando o papão do perigo comunista, e preocupados apenas com a consolidação do seu poder no mundo e o domínio absoluto daquele solo tão rico, ajudavam e impulsionavam a guerra fratricida no terreno.

Assim Angola, após a sua independência a 11 Novembro desse ano de 1975, tornava-se, abertamente, terreno ideal para a desenfreada corrida externa ao domínio das suas riquezas, camuflada pela guerra civil que, entretanto, se desenvolvia… e que só terminou 27 anos depois, em 4 Abril, 2002!

 

Maria de Lurdes Moreira da Silva