Artigo:Pequeno Tratado das Figuras | Manuel Gusmão | Assírio & Alvim, 2013

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Pequeno Tratado das Figuras | Manuel Gusmão | Assírio & Alvim, 2013

«O livro de poesia de Manuel Gusmão é constituído por cinco segmentos, “O Caderno das Paisagens”, “Os Desenhos do Escultor ou Notas sobre o Trabalho da Inspiração” (um poema em memória do Jorge Vieira), “No Labirinto das Imagens”, “Filmar o Vento”, “A Pintura Corpo a Corpo”.

1. O livro justifica plenamente o título, porque nele se aborda, desenvolve, aprofunda em cada poema, na sua forma breve mas “tratada”, cuidada, cinzelada, aspectos, configurações, aparências, coisas, imagens do mundo e da arte, com recurso a figuras de retórica, de sentido, de sintaxe. Este livro é portanto um Pequeno Tratado das Figuras que comprova, como diria o ensaísta Manuel Gusmão, que “no seu sentido perpétuo, a poesia inventa e reinventa a sua origem ou o seu modo de chegar” e que nós “em alguma medida, somos feitos e desfeitos pelo poieín das artes (…) pelas esculturas em que tacteamos o desabamento e o voo do mundo”.

A poesia de Manuel Gusmão é normalmente de uma grande densidade cultural e percorrida por uma intensa intertextualidade e não foi por acaso que recorri a esta última citação, mas porque à medida que ia lendo o livro pressentia que sob os poemas de Pequeno Tratado das Figuras repercutia a frase de Walter Benjamin: “nós habitamos o mundo e o mundo é a nossa tarefa”.

Na verdade, é o mundo que o sujeito poético deste livro pretende recompor, tacteando, como o escultor, o desabamento e o voo do mundo ou aprimorando o olhar com as pinturas para melhor discernir sobre a realidade visível. A voz que anima os poemas de Pequeno Tratado das Figuras mostra como a arte se apropria do mundo, isto é, como partindo das coisas do mundo é capaz de as transformar e produzir coisas outras, enquanto o artista a ele próprio se vai transformando. […]

O Pequeno Tratado das Figuras é um livro que nos desafia a cada passo da sua leitura, nos interroga, nos comove, nos implica sem precisar de se explicar, nos incita a reescrevê-lo uma vez e outra vez. Esse é o timbre da poesia de um admirável poeta chamado Manuel Gusmão.»

Paulo Sucena


[Excerto de «Um dialogismo fecundo», texto proferido em 17 de janeiro de 2015, por ocasião da entrega a Manuel Gusmão do Prémio Literário António Gedeão, que galardoou uma obra de poesia em português de um escritor simultaneamente professor. Versão integral: 

https://www.spgl.pt/um-dialogismo-fecundo-paulo-sucena

Este é “um livro surpreendente sobre a vida, as imagens, a arte e a sua prática e a confirmação retumbante de estarmos perante um dos grandes poetas portugueses do nosso tempo”, pode ler-se na página da editora da obra, Assírio & Alvim.

Manuel Gusmão venceu o prémio de poesia António Gedeão, instituído pela FENPROF, pelo Pequeno Tratado das Figuras, em 2014. A decisão, unânime, foi tomada pelo júri do prémio (Paulo Sucena, Lídia Jorge e José Manuel Mendes), “considerada a intensidade da linguagem num trabalho poético que recolhe e dialoga com a tradição estética conformadora de todo o seu percurso”.

Sofia Vilarigues

Texto original publicado no Escola/Informação n.º 306 | nov./dez. 2023