Artigo:O Meu Livro Quer Outro Livro - 14/11 - 15h30m - com Ribeiro Cardoso

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O Meu Livro Quer Outro Livro - 14/11 - 15h30m - com Ribeiro Cardoso

Nesta sessão teremos connosco Ribeiro Cardoso que nos irá falar do seu livro “25 de novembro e os media estatizados - uma história por contar” - “O 25 de Novembro de 1975 ainda tem muito para e por contar, pois o que ficou na nossa memória coletiva pouco tem a ver com o que se passou na realidade..."

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Mais uma sessão organizada pelo departamento dos Professores e Educadores aposentados teve lugar, neste dia, 14 de novembro de 2018, no auditório da sede do S.P.G.L.

O colega Manuel Vasconcelos começou por nos informar da atividade sindical deste departamento bem como das tentativas da Administração Pública de negociar com o Governo os novos salários. Informou-nos, ainda, sobre a situação dos colegas no ativo que continuam a sua justa luta pela contagem integral do tempo de serviço, uma vez que, no dia 5 de outubro deste ano viram recusado o direito aos 9 anos, 4 meses e 2 dias que lhe são devidos. Referiu, também, a violação sistemática ao Estatuto da Carreira docente, que integra na componente não letiva dos horários dos docentes, as horas que são da componente letiva. Deu notícia da manifestação nacional da Função Pública, no dia seguinte, dia 15 e apelou à participação de todos nós.

A colega Natália deu-nos conta da atividade a realizar pelo departamento, num futuro próximo, Memórias, que visa a recolha de textos sobre situações por nós vivenciadas enquanto professores, apelando à nossa participação.

Procedeu-se à habitual troca de livros.

Mais uma vez foi divulgado o Encontro Nacional que irá acontecer no dia 26 deste mês – “Comemoração do 25º aniversário do 1º Congresso Nacional dos Professores Aposentados”, a decorrer na Escola Secundária de Camões, Lisboa.

Deu-se início à apresentação do livro - O 25 de Novembro e os media estatizados, da autoria de Ribeiro Cardoso. A colega Virgínia Rodrigues confessou a sua cumplicidade nesta iniciativa, uma vez que depois de ter lido o livro, considerou ser imprescindível a sua apresentação neste Sindicato, tendo-se dirigido ao autor a solicitar a sua presença.

O colega Avelãs acrescentou que não tendo podido lê-lo senão durante um curto espaço de tempo, tinha a salientar a sua escrita, reveladora de uma técnica própria do bom jornalismo, quer pela redação, quer pela recolha de documentos orais e escritos sobre o despedimento arbitrário de 152 trabalhadores da comunicação estatizada de Lisboa, um dia após o 25 de novembro de 1975. Tal facto ocorreu sem que tivesse havido culpa formada, sem processos disciplinares, apenas com listas organizadas ad–hoc, por motivos políticos e ideológicos. As vivências tormentosas dos envolvidos neste processo é descrita com clareza, sendo patente a má fé dos tribunais que só volvidos alguns anos ordenaram o pagamento de onze anos de salários, como forma de indeminização. Infere-se, pois, que o tema central da obra, não é o despedimento abusivo dos trabalhadores mas a essência do 25 de Novembro que é preciso revisitar para não sermos ludibriados pelos vencedores, como usa acontecer.

O autor manifestou a sua alegria por estar neste lugar, pois desde cedo se interessou pelo sindicalismo. Depois de 1969, data em que abandonou a Universidade de Coimbra, veio para Lisboa, tendo trabalhado na Escola Francisco Arruda, na qual tiveram lugar muitas das primeiras reuniões que deram origem ao nosso Sindicato. Foi sindicalista durante muitos anos e é ainda membro eleito de um órgão sindical. É membro do Clube de Jornalistas e da Casa da Imprensa. Jornalista profissional desde 1971 iniciou a sua carreira no Diário de Lisboa e foi cofundador do semanário O Jornal. Em 2014 publicou o livro O fim do império-memória de um soldado português e, em 2017, este que hoje nos apresenta. Para a sua concretização consultou cerca de 60 processos e ouviu dezenas de trabalhadores que foram alvo do despedimento, dando conta dos problemas que os mesmos tiveram de enfrentar e demais consequências, por vezes, assaz dramáticas.

Constata, como jornalista, que é grande o desinteresse da imprensa pelos seres humanos e como é compulsiva a sua apetência pelo fait-divers, do qual, em alguns casos, vive exclusivamente. As verdadeiras razões dos acontecimentos são sempre escamoteadas ou ignoradas, mesmo em casos desta monta, a fim de esconder o real significado dum evento político, como foi e 25 de Novembro de 1975. Este dia, que permanece na nossa memória como um emaranhado de acontecimentos pouco claros e nada esclarecedores, tem muito por contar. Não pode nem deve tal acontecimento ser dissociado da presença em Portugal das várias polícias secretas internacionais, bem como do papel nefasto da Igreja junto do povo e da sua aliança com os detentores do capital e da terra, tal como se verificou em Évora, na sequência da reforma agrária. Acrescente-se, ainda, o descontentamento da camada social mais conservadora do país que tudo fez para reconquistar o seu poder. Salientou a ordem expressa para extinguir os paraquedistas e a posterior apreensão de armas transportadas clandestinamente em automóveis particulares, em resumo, ações concertadas e com um objetivo claro e bem definido, que nunca foi explicado, mas que determinou a política dos nossos dias.

Acrescentou que os dois últimos capítulos do livro narram uma nova versão, devidamente documentada, dos casos do jornal República e da Rádio Renascença que foram criados para os desprestigiar e explorados respetivamente pela Igreja e o P.S., à época.

Intervieram alguns dos presentes como a nossa colega Natália Bravo que referiu a necessidade de exigir uma imprensa séria e de qualidade que não falseie os factos e vá ao âmago dos temas que se propõe tratar. Outras questões semelhantes se levantaram. O nosso convidado Ribeiro Cardoso salientou, como fator adverso ao jornalismo, a circunstância atual da existência de um elevado número de jornalistas à procura de emprego, o que facilita a sua contratação com baixos salários e uma grande disponibilidade para aceitar as regras que lhe são impostas.

Terminou esta longa conversa com uma agradável reunião em torno da mesa da merenda, bem portuguesa, recheada de fatias de um belo queijo, o tradicional enchido e uns mimos doces regados com vinho tinto e até licoroso.

O autor autografou os livros adquiridos e agradeceu o convite que lhe havia sido dirigido.