Artigo:O Ensino Vocacional dum Ministério Faz de Conta

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O Ensino Vocacional dum Ministério Faz de Conta

Faz de conta, o ministro Crato e respectivo bando governativo, que criou uma coisa muito boa, à alemã, o chamado “Ensino Vocacional”, cheia de bisturis e rodas dentadas capazes dos mais frios e eficazes raciocínios conducentes à maior eficácia e eficiência possíveis, legitimamente parido dum perdoável maquiavelismo em tempos de Troika e austeridade redentora, num povo que, no dizer do presidente Cavaco Silva lá por terras da Holanda, foi demasiado negligente, estando a sofrer as consequências de “uma vida fácil”. (vide: (http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=25&did=43425).

Assim, e de acordo com a liderança espiritual de Cavaco e o pragmatismo governativo de Crato/Coelho, apresenta-se a austera fatura, desde já, às crianças e jovens deste país, por coincidência, as mais desprotegidas social, económica e culturalmente, que, como é reconhecido por todos os encarregados de educação que correm a colocar os seus educandos nos colégios privados financiados pelo Estado, têm vindo a estragar o ambiente das turmas do ensino (agora chamado) regular.

A este grupo bastante heterogéneo de alunos pobres, portadores de necessidades educativas especiais, desfavorecidos do ponto de vista social, familiar, económico e cultural, aplica-se uma das mais testadas das soluções na história do terrorismo social: a segregação. Ao ficarem todos juntos, concretiza-se uma higienização assaz produtiva das turmas “regulares”, ao arrancar do seu seio aquelas sementes e raízes do mal que ameaçavam o futuro das outras crianças e jovens e, portanto, da nação.

Para além disso, como manda a regra duma escola expiada na pobreza, concentra-se o maior número possível em turmas até 26, abrem-se cursos de carácter, faz de conta, mais práticos, sem qualquer financiamento específico para a aquisição de materiais e equipamentos indispensáveis ao seu funcionamento, não se reforçam os recursos humanos necessários à prevenção e resolução dos inúmeros problemas disciplinares, afectivos, familiares e sociais que estão na origem da via sacra em que se converteu a vida de muitos, incluindo a dos respectivo docentes, desarmados perante a enormidade das situações.

A par das turmas do Ensino Vocacional, concentradoras do mal, florescem já as turmas-nível, ou grupos-nível, concentradoras do bem, em que os melhores alunos podem, desde tenra idade, construir uma identidade assente na sua manifesta superioridade, sem que tenham de perder a energia moral na partilha solidária dos seus conhecimentos com os alunos mais fracos, focando-se apenas em si próprios e no reforço corporativo dos grupos de excelência a que legitimamente pertencem.

O admirável- mundo-novo-faz-de-conta de Crato, portanto, a emergir magnífico, aqui citado nas palavras do diretor da Escola Secundária Afonso Lopes Vieira de Leiria, a partir dum artigo do Expresso de 06/04/2015 (vide: http://expresso.sapo.pt/sociedade/cursos-vocacionais-combater-insucesso-ou-limpar-estatisticas=f918605):

- “falta de apoios às escolas para assegurar estes cursos;…

- em que predomina um "ambiente de indisciplina e de reiterado incumprimento das regras de conduta, contaminado por um sentimento de impunidade, pois os jovens têm a noção de que não podem ser retidos;

- A diversidade das turmas não ajuda: "Alguns dos alunos não possuem pré-requisitos mínimos, já que têm apenas a frequência do 6º ano;…

- A única condição comum é terem um historial de repetências.

- Seria importante haver equipas de apoio especializados como assistentes sociais, animadores socioculturais.

- Os professores nem têm formação adequada, nem são exclusivos destas turmas e começa a gerar-se o sentimento de 'atirar' estas turmas para horários sobrantes."

João Correia