Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº 250

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QUE A PAIXÃO DO FUTURO NOS AGARRE!



1. De entre os estados de espírito que me parece ser necessário combater salientaria a descrença (e a atitude de resignada indiferença que lhe está ligada), o medo e o ceticismo pirrónico quanto às nossas potencialidades para construir um futuro diferente para o nosso país. 


2. Só uma racionalizada paixão permite fazer com eficácia o que nos propomos concretizar. Este princípio, assim o creio, é válido para todos os tipos de atividade: política, social, sindical, e também para a atividade pedagógica. O ambiente que percorre as nossas escolas, porém, não é colorido pelo vermelho da paixão, mas pelo cinzento carregado, fruto ainda da profunda agressão à classe e às escolas da responsabilidade do consulado de Lurdes Rodrigues, situação agravada pela profunda instabilidade profissional em que vive boa parte dos professores e educadores, muito particularmente os docentes na situação de contratados, pelos cortes nos vencimentos e, numa outra perspetiva, pela ausência de uma linha de rumo clara e democrática da atual equipa ministerial. Boa parte das medidas tomadas por Nuno Crato revelam total falta de rigor e de fundamentação, como se fossem medidas tomadas por impulsos, por visões empíricas ou esquemas preconcebidos que não “colam” com a realidade. A proposta de alteração curricular apresentada pelo MEC é um bom exemplo da superficialidade com que o MEC analisa as dificuldades atuais da nossa escola, como o evidenciaram os docentes nas reuniões que o SPGL promoveu em várias escolas durante o período de discussão pública da proposta. Mas também o modo incoerente como estão a ser tratados o Programa das Novas Oportunidades e os EFAS (Educação e Formação de Adultos) “deitando fora o menino com a água do banho”, como diz o adágio.


3. Dói escrever, quase 38 anos após o 25 de Abril, que o medo voltou a algumas das nossas escolas. O medo de não ser “reconduzido” quando se é contratado, o medo de ser escolhido, seja lá por que motivos, para “horário zero” se se pertence a um quadro, o medo de se discutir uma ordem do diretor, o medo de se afirmar publicamente o que se pensa. Não pretendo ser injusto: sei que muitos diretores mantêm as suas práticas democráticas, orientadas por princípios claros e justos; mas não posso ignorar as várias situações de pura arbitrariedade por parte de diretores que professores e educadores têm vindo denunciar ao sindicato. A reflexão sobre a gestão das escolas é imperiosa. A democracia, em todas as suas vertentes, será sempre uma fonte de melhoria e de progresso pedagógicos. Só para os diretores incompetentes é que a democracia é um obstáculo a uma boa liderança. Urge ganhar os docentes para esta batalha: o regresso da democracia a todas as escolas – é essa a proposta do dossier deste número do Escola-Informação. Um desafio sindical, sem dúvida, mas também um desafio pedagógico e de cidadania.


4. Desafios: eis o que temos de ter coragem de nos propor a cada um de nós e, coletivamente, à classe docente. Desafio no sentido de não aceitar como inevitável o empobrecimento da formação que a escola pública tem de possibilitar aos seus alunos, desafio de não aceitar que desqualifiquem o ato pedagógico e, portanto, os professores, desafio de denunciar a degradação salarial, desafio de lutar pela estabilidade profissional, desafio de romper com o medo lá onde ele se instalou, desafio de propor mudanças no modelo de gestão. Sobretudo o desafio de não cruzar os braços. A força de acreditar que é um possível um futuro diferente, uma escola diferente. Com políticas diferentes e com a nossa intervenção. 


Que a paixão do futuro nos agarre!