Artigo:Escola Informação nº 249

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A INEVITABILIDADE COMO ARMA IDEOLÓGICA ANTIDEMOCRÁTICA



É difícil escrever o que quer que seja perante um terreno tão inseguro e mutável como aquele com que nos confrontamos. Escrevo este texto uns dias antes da cimeira da União Europeia de que se diz ser decisiva – como já se disse de umas tantas que a precederam. Não sei se o será; mas sei que me repugna que se pretenda que ela seja decisiva no sentido de submeter toda a Europa ao poderio económico e político de uma Alemanha que parece tratar todos os outros países como seus súbditos. Vigora aqui, também, a ideologia da “inevitabilidade”. Dizem-nos que pode ser desagradável, mas que não há outro “remédio”. Como o dizem aos portugueses, aos gregos, irlandeses, italianos ou espanhóis sujeitos a um “empobrecimento intencional” - sempre com a lengalenga da inevitabilidade.


A ideologia da inevitabilidade é sempre a de um abuso do poder. Logicamente, todo o poder apresenta as suas soluções como as melhores e as mais adequadas. Um poder democrático reconhecerá isso mesmo: que as suas medidas são apenas as suas medidas. Um poder ditatorial impô-las-á como as únicas possíveis. A lógica da submissão de toda a Europa às leis de Angela Merkel é a mesma que leva Passos Coelho a submeter todo o povo português a políticas apresentadas como inevitáveis, mas que mais não são do que a concretização de uma ideologia de empobrecimento da maioria para o enriquecimento contínuo dos mais ricos. Política que, não sendo original, (desde há alguns anos que Portugal se situa entre os países com maior desigualdade social entre os países da união europeia) assume, nos dias de hoje, uma crueldade acentuada. 


Inevitável é - como nos tentam convencer – reduzir em grande escala o investimento no ensino público, superior e não superior. Portugal passa pela vergonha de ser dos países que atualmente menos investe na Educação, apesar de, pelos atrasos acumulados, dever ser dos que mais deveriam investir. Inevitável - insistem - são os cortes na saúde pública, nos apoios aos desempregados e nas situações de enorme precariedade. Inevitável - repetem sem cessar - é o aumento do desemprego. Inevitável - não o dizem, mas é o que pensam – é a submissão dos mais indefesos, de quem trabalha ou desespera por falta dele, aos interesses do lucro e da especulação financeira.


Denunciar e combater esta venenosa ideologia da inevitabilidade é a condição “sine qua non” para o que vai tardando: para um grito enorme de revolta, ainda maior que o da greve do passado dia 24 de novembro. Um grito que trave a nefanda marcha dos que, com o pretexto de apregoadas inevitabilidades, nos destroem as condições para uma vida minimamente digna. E destroem a dignidade de um povo que não é nem quer ser súbdito de um qualquer chefe alemão.


Apesar de tudo, votos de um bom natal.