Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO DIGITAL Nº2

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Corrupções

Num estudo internacional recente sobre a perceção pública de corrupção, publicitado em vários órgãos de informação, Portugal aparece bastante mal situado. Ou seja, os portugueses “sentem” que a corrupção é uma doença estrutural da nossa sociedade, nomeadamente nos meios políticos e empresariais. Sensação “empírica”, certamente, mas que um vasto conjunto de acontecimentos e situações parece sustentar.

Há diferentes “níveis” de corrupção, o que não significa que do ponto de vista ético uns sejam mais ou menos graves do que outros. Num nível mais elevado registam-se situações como a constante circulação de altos dirigentes políticos entre pastas governamentais e empresas, públicas ou privadas, sobre as quais tiveram tutela ministerial. Nestes casos, a presunção de “troca de favores” é mais do que legítima.

De negócios obscuros envolvendo largos milhões é exemplo paradigmático a “compra dos submarinos” da responsabilidade do então ministro da Defesa Paulo Portas, processo que na Alemanha levou já a tribunal (e creio que à demissão) de alguns envolvidos, mas que em Portugal continua a ser “empurrado para canto” como sói dizer-se.

É neste ambiente de pântano que devem ser enquadrados os mais recentes desenvolvimentos sobre o grupo GPS – empresa que se dedica à proliferação de colégios privados, muitos deles beneficiando ilegitimamente de apoio do Estado, a pretexto dos “contratos de associação”. Como não considerar corrupção o facto de um secretário de Estado (do governo de Santana Lopes) e um diretor regional da Educação terem autorizado, a escassos dias de deixarem os seus cargos – o governo estava já em “gestão" – a construção de colégios em Caldas da Rainha em terrenos primeiramente destinados a escolas públicas, colégios aos quais foi de imediato concedido o apoio de “contrato de associação”? Colégios a que, logo depois, aparecem associados como consultores? Como não considerar corrupção o facto de a este grupo, com colégios, operando em clara violação da legislação existente, estarem ligados anteriores diretores regionais de Educação e deputados – com a triste constatação de alguns deles terem sido eleitos por partidos de esquerda? Como não considerar corrupção o facto de a alguns destes colégios ser garantido a manutenção do “número de turmas”, mesmo que elas possam funcionar - até em melhores condições – nas escolas públicas da zona, a quem tal garantia não é oferecida? 

O SPGL liderou a denúncia destas situações, depois alargada a outras zonas do país. As investigações decorrem. Mas o “cheiro” de corrupção instalou-se. E repito: de forma mais do que justificada.

Infelizmente falta a muitos dos nossos políticos e personalidades públicas a grandeza moral de se afastarem perante tais graves suspeitas. Em muitos outros países europeus, isto “não ficaria assim”. O lado negativo dos apregoados nossos “brandos costumes”?