Artigo:A Vingança do País Real

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A Vingança do País Real

O actual governo debate-se com várias frentes, nenhuma delas verdadeiramente deletéria por enquanto, ao contrário do fogo que ceifou 64 vidas e congelou a vida de muitos mais, talvez, em alguma medida, fruto das cativações ou das mudanças súbitas de chefias.

Como se não bastasse, talvez também devido às ditas cativações ou à simples modorra castrense, escancara-se portas a bandidos cujo roubo muitas vidas ainda poderão ceifar, aqui ou além, pelo terrorismo, pela banal criminalidade do dia a dia.

Sabemos que o país real, o ignorante e o voraz, se aliam na luta por lambuzar cada vez mais este país de resina e compostos aromáticos, pasto do fogo, que vendem a ideia de que os eucaliptais das celuloses não ardem assim, e que a floresta devia ser toda eucaliptos e terra, numa assepsia completa de vida espontânea, lucrativa e segura.

Sabemos que os generais e demais patentes, a julgar pelo caso da corrupção nas messes, pela morte de jovens comandos, pelo que muitos de nós tomam conhecimento por casos relatados em viva voz, ignoram soberanamente o mal da corrupção, brutalidade e incompetência que lavram à sua volta, que nenhum político teve até agora a coragem de enfrentar da forma tão exemplar que se assume na luta contra a fuga ao fisco, por exemplo.

É como se as Forças Armadas fossem a secção museológica, viva, da arrogância, do autoritarismo e da autossuficiência que marcaram as elites deste país durante o salazarismo, mestres da dupla moral - uma para a ralé, outra para os seus semelhantes. São assim uma espécie de Adamastor, já um pouco geriátrico, cujo dobrar possível será a sua própria podridão, a qual não deixa de contaminar o ambiente, como provam a incúria, o preguiça, a brutalidade irresponsável, a incompetência premiada, o bolor generalizado.

O país real debate-se assim, entre os demónios do passado e do presente, entre o autoritarismo e a avidez cega, sendo que a generalidade do poder político e económico procura acima de tudo safar-se o melhor possível, neste caso, aos desafio das eleições do dia 1 de outubro, primeiro verdadeiro teste à coligação do governo e da oposição de direita.

No meio de tudo isto, a Justiça parece ter acordado de há uns anos para cá, com casos atrás de casos a darem-nos a esperança de que será o suficientemente cega para não ligar ao rosto e nome de quem enfia na cadeia, a bem de uma Nação de poderes bem separados, e de um outro país possível, aqui e ali materializado numa sociedade mais justa e sustentável.

João Correia