Artigo:A Cor das Faias - À volta da metade do Outono

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“A Cor das Faias – À volta da metade do outono”

Em 18 de Janeiro, o Departamento de Professores e Educadores Aposentados e o Departamento da Cultura do SPGL levaram a cabo mais uma sessão de “O meu livro quer outro livro”, desta vez dedicada à obra “A Cor das Faias – à volta da metade do outono “, da autoria de Epigmenio Rodriguez e apresentada por António Pinelo Tiza, tradutor.
A sessão foi iniciada com a apresentação de um vídeo com Luís Pastor cantando o ”Coro da Primavera” de Zeca Afonso.
António Avelãs, em representação do Presidente da Direção do SPGL, agradeceu a presença dos dois convidados.
No momento da troca de livros, Leonoreta Leitão apresentou o livro “O Vizinho Invisível” de Francisco Faraldo (Paco), aludindo à vizinhança ignorada entre Espanha e Portugal.
Margarida Lopes apresentou o livro “A Amiga Genial” de Elena Ferrante.
António Pinelo Tiza, licenciado em filosofia e doutorado em ciências sociais, é autor de inúmeras obras, de que destacamos a mais recente “A Magia das Máscaras Portuguesas”.
Pinelo Tiza apresentou o autor da obra que ia ser abordada. Epigmenio Rodriguez, natural da província de Leon, professor, economista, foi diretor de várias escolas, incluindo o Instituto Espanhol em Londres. Nos últimos anos tem vindo a dedicar-se ao cinema. Escreveu também um livro de viagens, ”Leon sin Prisa”, em dois volumes.
António Pinelo Tiza iniciou a apresentação de “A Cor das Faias”, dizendo que a cor das faias é o vermelho de sangue que lembra o inferno e também a cor do sangue que corre neste romance.
Julio Lhamazares, jornalista e escritor, nascido na região de Leon, numa aldeia na montanha submersa em pântanos, disse desta obra que seria o livro que ele levaria para a montanha; chamou a atenção para duas realidades: os Picos da Europa e a sua beleza natural em que predominam as faias e, por outro lado, o despovoamento destas regiões.
Nesta localidade, La Loma, apenas ficou uma família: pai, mãe e sete filhos. Neste isolamento, criaram o tal inferno de que fala Italo Calvino, o inferno que está em nós. Toda a obra se resume ao outono de uma família e sua decadência – ali emergem os instintos mais baixos da condição humana, havendo, contudo, no final, a reconstrução dessa comunidade.
O tradutor referiu “As Cidades Invisíveis” de Italo Calvino. Segundo ele, ler esta obra significa abrir as portas para uma literatura quase desconhecida, da qual faz parte “A Cor das Faias”.
Seguiu-se a intervenção do autor. Manifestou a sua alegria por estar em Lisboa; agradeceu a tradução e apresentação de António Tiza. Agradeceu também o convite ao Departamento de Professores e Educadores Aposentados e ainda a todos os presentes por estarem com ele num dia “tão importante”.
“O inferno dos vivos…já está aqui.” São as últimas palavras que Marco Polo diz ao Imperador Kublai Kan na obra “As Cidades Invisíveis” de Italo Calvino. Este parágrafo foi o ponto de partida para esta obra. Epigmenio Rodrtiguez transpôs a ideia para “o meio rural, remoto e isolado, perto e ao mesmo tempo longe de tudo e de todos”.
O autor citou ainda Juan Miguel Alonso ao aproximar o tema desta obra à “…inumana essência que nos define num espelho para o qual custa tanto olhar”.
Epigmenio Rodriguez deixa-nos, contudo, a esperança de encontrarmos nesta obra “alguns laivos de generosidade, de compaixão, de amor. Laivos que talvez nos ajudem…a manter a esperança em nós mesmos, os chamados seres humanos.”
Seguiram-se algumas intervenções dos presentes das quais destacamos a de Cinilda Gentil. Afirmou que se trata de um livro duro, pesado, retrato social e psicológico de uma família, um microcosmo isolado do resto da Espanha e da evolução da sua história em que elementos como a morte e a catarse lhe dão a feição de uma tragédia grega moderna.
No final das intervenções, o autor brindou os presentes com uma surpresa: um “trailer” de uma longa metragem de que é guionista, autor e produtor: ”Media hora (y um epilogo)”.
A terminar a sessão, Inês Veiga comentou as escolhas dos vídeos selecionados – “Coro da Primavera” de Zeca Afonso, por Luís Pastor e ainda Os Gaiteiros de Lisboa cantando “O Ronco do Diabo”, a condizer com o tema do livro.
Foi uma sessão de alta qualidade a que o Departamento proporcionou aos presentes: a craveira excecional dos convidados e das suas apresentações, a pertinência das colaborações escolhidas e apresentadas pelas colegas, o interesse das perguntas e respostas contribuíram para a riqueza cultural desta tarde que provou que esta atividade do Departamento é um pomar onde se têm colhido frutos magníficos e que vale a pena continuar. Provou ainda que os outonos da vida podem ser suavizados e enriquecidos pela generosidade e empenho de alguns  em benefício de todos.

Veja aqui o video da iniciativa

 

Epigmenio Rodríguez nasceu em Taranilla, Léon. Professor, economista e mestre em Administração de Empresas, foi professor e diretor em vários centros educativos, incluindo o Instituto Espanhol em Londres. Foi também assessor técnico do Ministério de Educação, assim como Consultor da União Europeia em projetos de cooperação para o desenvolvimento da América Central.
Nos últimos anos tem desenvolvido a sua faceta criativa tanto no cinema como na literatura. Como guionista, diretor e produtor da curta metragem las becicletas, granjeou excelentes críticas e reconhecimento em numerosos festivais com a atribuição de prémios em alguns deles. Terminou a realização da longa metragem Media hora (y un epílogo), um filme que será estreado até ao próximo mês de maio.
A Cor das Faias (El color de las hayas) é o primeiro livro da trilogia De Infernis.  O segundo livro desta trilogia, El sol entre los rascacielos, foi publicado em abril de 2015

António Pinelo Tiza natural de Varge (Bragança).
Estudou Teologia em Bragança e licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi professor do ensino básico, secundário e superior e defendeu a tese de doutoramento em Ciências Sociais na Universidade de Valladolid.
Autor de inúmeras obras, entre as quais: Máscara e Danças Rituais – Ritos Ibéricos do Solstício de Inverno; O Diabo e as Cinzas (contos; Inverno Mágico – Ritos e Mistérios Transmontanos); Máscara Ibérica (com Hélder Ferreira); Estudo Antropológico das Mascaradas de Zamora, Bragança e Douro (com Jesús Nuñez) e Portugal y España – Vidas Paralelas (com Isidoro González). Escreve para várias   revistas artigos sobre Etnografia e Educação e publicou o seu último livro A Magia das Máscaras Portuguesas. Atualmente desempenha as funções de Presidente da Direcção da Academia Ibérica da Máscara. É membro da Associação Portuguesa de Escritores.

 

A COR DAS FAIAS
Autor - Epigmenio Rodríguez
Tradutor-  António Pinelo Tiza