Artigo:25 de Abril

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25 de Abril

Vivia em Moçambique, em Quelimane, quando se deu o 25 de Abril.

Ao longo do dia e até ao meio da tarde, falava-se em alguns meios, na rádio... de algo que tinha acontecido em Portugal – um episódio no campo político mas que não se sabia bem ao certo o que seria. Talvez  o reforço do regime?!

A guerra colonial prosseguia desde os anos sessenta sem que dela se falasse.

Era tema silenciado. Ninguém sequer sabia dos Massacre de Wiriamu ocorrido em 1972

Ao fim da tarde, cerca das 18 horas, soube finalmente o que tinha  acontecido. Um  golpe militar que punha fim à ditadura.

Um amigo e vizinho veio a nossa casa comentar e então festejámos este tão desejado acontecimento. Bebemos um feliz Whisky.

À volta, só senti silêncio. Omissão.

Mas, passados poucos dias assistiu-se a uma manifestação de rua contra o 25 de Abril, encabeçada por notáveis entre eles um conceituado médico.

Começou  depois a ver-se  a azáfama dos caixotes, construídos nos quintais e destinados ao transportes de bens dos que preparavam a saída de Moçambique.

A minha família e eu éramos conhecidos por termos posições/práticas pouco consonantes com a cultura colonial.

Eu era cliente da boutique Libela – uma moderna casa de moda - que passou a receber-me com distanciamento. Já não era cliente desejada.

Na escola onde trabalhava - a Escola da Sinacura – as minhas colegas diziam que iriam rir-se de mim e meu marido, porque,  sendo nós assumidamente pro  independência, seriamos nós os primeiros a quem “os amigos pretinhos” cortariam pescoço.

Lurdes Alexandre