Artigo:"Professores portugueses entre os que mais recebem em relação à riqueza do país" in Público, 5/10/2015

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É necessário desmontar esta falácia que os governos têm usado para reduzir progressivamente os salários dos professores para níveis aviltantes. Só quem é professor sabe como as conclusões destes estudos estão longe da realidade e resultam de uma mal-intencionada manipulação estatística.

Tomemos por referência um serviço de seis turmas, 25 alunos por turma e três níveis de ensino (7º, 8º e 9º anos). Tomemos ainda por referência as 13 semanas que estão estabelecidas no calendário escolar oficial, como duração do 1º período lectivo de 2015-16. Consideremos que este hipotético professor tem os mesmos alunos duas vezes por semana. Então, este professor terá que preparar seis aulas diferentes em cada semana. Se pensarmos numa hora de trabalho para preparar cada aula, estaremos a falar de seis horas por semana. Nas 13 do período, resultarão 78 horas. O nosso hipotético professor vai fazer dois testes a cada turma. Nas 13 semanas lectivas fará 12 testes. Voltemos a considerar apenas uma hora para conceber cada teste. Claro está que os testes têm que ser corrigidos. Consideremos meia hora para corrigir cada um dos 300 testes. Feitas as contas, transitam para a soma final 162 horas. Também são necessários exercícios de aplicação e de pesquisa e, sobretudo agora, com a “orientação para os resultados” com que o assediam em permanência, o nosso professor não pode prescindir dos trabalhos de casa. Imaginemos que apenas pede um trabalho em cada semana e que vê cada um deles nuns simples cinco minutos. Então teremos de contabilizar mais 162 horas e meia, relativas a todo o período. Se este professor reservar duas escassas horas por semana para cuidar da sua formação contínua e actualização científica, são mais 26 que devemos somar no fim. Acrescentemos, finalmente, as horas de aulas e as denominadas horas de componente não lectiva “de estabelecimento”. São mais 318 horas e meia. Somemos tudo e dividamos pelas 13 semanas, para ver o número de horas que o professor trabalhou em cada semana: 57 horas! Além disto, há actividades extracurriculares, visitas de estudo, conversas com alunos e pais, reuniões que não caem dentro das horas não lectivas de estabelecimento e, em anos de exames, pelo menos, algumas aulas suplementares.
57 horas por semana significam 228 horas por mês. Um professor no actual 8º escalão recebe, depois dos impostos descontados, 1500€, o que dá 6,58€ por cada hora de trabalho. Ora, isto é quanto ganha uma empregada de limpeza, vulgo mulher-a-dias. Mas se este professor estiver 6º escalão, recebe líquidos 1260€, o que corresponde a 5,5€ à hora. Se considerarmos o caso do professor no 1º escalão, então temos o fabuloso vencimento de 1000€ e 4,4€/h. 
É assim que, na realidade, são pagos os profissionais do sector mais estratégico deste país chamado Portugal.

Francisco Silva