Artigo:"O meu livro quer outro livro" - à conversa com Miguel Horta

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“O meu livro quer outro livro” – 12 de janeiro de 2017

À conversa com Miguel Horta, dinamizador do projeto “A cor das Histórias” em estabelecimentos prisionais

A sessão “O meu Livro quer outro Livro” de 12.01.17, na Sala de Reuniões do 4º andar da Sede do SPGL, iniciou-se com a habitual troca de livros. Foram entregues: “Em Nome do Pai” de Nuno Lobo Antunes, “O Último Cais” de Helena Marques” e “As Coisas que nunca dissemos” de Carl Levy.
Dando início à sessão sobre o trabalho que desenvolve em estabelecimentos prisionais, especialmente sobre o projeto” Leituras em cadeia”, Miguel Horta apresentou-se como pintor de formação de base e mediador sociocultural profissional, cuja história de vida se forma a partir do 25 de abri, com experiências de animação em centros de apoio em organizações de base.
Miguel Horta definiu o mediador cultural como “um professor sem sala de aula”, tendo como objetivo que as “residentes” (reclusas) questionem e entendam melhor a sua passagem pelo mundo. A sua vocação, neste trabalho, é “fazer com” em vez de “fazer para”. Esta vocação de “toupeira” faz-nos entender que, para ir ao encontro do leitor, é preciso perceber a pessoa que lá está.
Desenhou o perfil da população com que lida, com níveis de literacia, na sua maioria, muito baixos. Tendo sido, por vezes, a escola a última porta antes da prisão, é, depois, a partir dos livros que se reabre a porta da literacia. Cria-se o gosto pela leitura, pela oralidade, pela competência da palavra. Agora o mediador já não é o professor, mas o facilitador.
Os projetos destinam-se à organização e dinamização das bibliotecas, nas prisões, para que, através do gosto pela leitura se desenvolva a literacia.
Miguel Horta não está sozinho neste trabalho. Maria José Vitorino, um dos pilares da equipa, trouxe para o projeto o modelo das bibliotecas escolares. A técnica do serviço prisional Gina, o professor Luís, que ensina português como segunda língua e a bibliotecária do Agrupamento de Escolas são em Tires as outras âncoras deste projeto. São as reclusas que fazem a catalogação e o registo do empréstimo dos livros que são também processos de alfabetização informática.
A mediação é um trabalho que exige uma cultura emocional sólida, da parte do mediador, cujo olhar tem de ter humanidade e segurança. Os sentimentos que dominam estas reclusas são a liberdade e o medo (especialmente nas que têm filhos). As tensões diminuem se o trabalho do mediador for pacificador. A reclusão deve ser uma maneira de a reclusa encontrar a sua humanidade e, para isso, o discurso tem de ser” culto, solidário e com uma crença cega no outro”.
O entusiasmo com que Miguel Horta apresentou o seu trabalho revelou bem a sua importância e o muito que há para fazer neste caminho da humanização e recuperação.
A Fundação Gulbenkian e Agostinho Azinhais Nabeiro são os apoios institucionais.
Outros apoios consistem na oferta de livros e DVDs. Os temas preferidos são historias de amor, suspense, humor e “filosofia” (autoajuda). Também são apreciados os quebra-cabeças- as palavras cruzadas, livros para pintar ou decalcar e lápis de cor. Livros em espanhol são importantes (segunda língua mais falada em Tires) bem como inglês e russo.
Nesta sessão recolheram-se muitos volumes que foram entregues a Miguel Horta e todas as ofertas continuam a ser desejadas.
Sobre os vários projetos de Miguel Horta é possível consultar http://miguelhorta.blogspot.pt/.

Para mais informações do nosso Departamento consulte os sites:
http://www.spgl.pt/dep-aposentados
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