Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº270 . outubro 2015

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“Vem, vamos embora, que esperar não é saber”

Tornemos o futuro no nosso melhor aliado


De Boliqueime a Bruxelas sopra um vento despeitado, rancoroso, despido do leve polimento que a direita no poder, e com perspetivas de o manter, costuma usar para se dar ares de maturidade democrática. Bastou a hipótese de um governo de esquerda, dando utilidade à maioria sociológica com expressão eleitoral constante no país desde o 25 de Abril de 1974, para que os comentadores que pululam a grande maioria dos órgãos de comunicação social (incluindo os públicos como a RTP e a Antena 1 que são pagos por todos os portugueses, logo maioritariamente pelo povo de esquerda) perdessem o verniz de conveniência e ensaiassem uma campanha negra contra a eventualidade de um governo apoiado pelo PS-BE-PCP-PEV.
Vale tudo. Renegar o que se disse até à náusea sobre a estabilidade política, denegrir objetivamente o país no plano internacional à espera de uma reação negativa dos comentadores internacionais e dos “famosos” mercados, tentar impor uma certa noção de tradição aos ditames da democracia.
Pior que os comentadores e que os atores partidários de direita é a posição da Presidência da República: partidária, caudilhista, bafienta. Mais. Ao promover explicitamente a sublevação de parte dos deputados do PS relativamente às decisões legítimas do seu partido, o Presidente da República, trilha os perigosos caminhos da “democracia tutelada”, ou seja, desliza em final de mandato para posições cada vez mais deploráveis, inconstitucionais e antidemocráticas. Nesse sentido, o futuro será tanto mais o nosso melhor aliado quanto maior importância dermos à eleição do próximo Presidente da República.
O governo apresentado por Passos Coelho, a partir das catacumbas partidárias, é o sinal claro de que, para já, a direita vai deitar a toalha ao chão. Mas não nos iludamos. Ao primeiro erro da esquerda ela encontrará novo alento e novo cimento para o regresso em forma de revanchismo.
Pesa uma enorme responsabilidade sobre todos nós. Fazer deste momento de esperança um caudal de união, de luta, de proposta. Com os olhos postos no futuro e não apenas no imediato.
Futuro que exige de nós que tenhamos em conta o conselho de Geraldo Vandré: vem, vamos embora, que esperar não é saber.

José Alberto Marques
Diretor Escola Informação