Artigo:Escola Informação Digital Nº 17, fevereiro 2018

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Lutar pela dignidade profissional é defender a Escola Pública


José Alberto Marques . Diretor Escola Informação


De acordo com um estudo do Observatório da Sociedade Portuguesa da Católica-Lisbon (Católica School of Business and Economics) a Escola Pública é a instituição nacional que gera maior nível médio de confiança na sociedade portuguesa logo a seguir à Presidência da República. Esta enorme confiança dos portugueses na sua Escola Pública não é um fenómeno recente, antes tem sido demonstrada com grande regularidade nas últimas décadas. Sendo evidente para todos que ela não assentará certamente na consistência e assertividade das políticas educativas (que têm sido erráticas, contraditórias e sem visão de futuro) ou no vigor do investimento (a escassez de recursos educativos e a degradação de muitos equipamentos e edifícios escolares são por demais evidentes), são naturalmente as pessoas que merecem essa confiança. E, nas escolas públicas portuguesas (como em quaisquer outras), para além dos alunos que são o seu capital mais precioso, temos os professores e educadores, os técnicos especializados e os funcionários. E deste grupo são os professores (sem beliscar minimamente a importância dos outros intervenientes) que marcam de forma indelével a qualidade da Escola Pública.
Porém, será que esta confiança reforçada na Escola Pública (e necessariamente nos seus professores) tem conduzido a um reconhecimento profissional desta classe fundamental para o presente e futuro do país? Infelizmente, quando olhamos para o que se tem passado nos dezassete anos que já decorreram neste século, a resposta só pode ser negativa.
Quem se esqueceu da frase da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, em junho de 2006: “Admito que perdi os professores, mas ganhei a opinião pública!”? Ou daquela, vergonhosa, proferida em novembro de 2008 pelo secretário de  Estado Jorge Pedreira: “Quando se dá uma bolacha a um rato, ele a seguir quer um copo de leite!»? Ou ainda daquela aleivosia saída da boca de Margarida Moreira, Diretora Regional de Educação do Norte, também em novembro de 2008: «[Os professores são] arruaceiros, covardes, são como o esparguete (depois de esticados, partem), só são valentes quando estão em grupo!»? Talvez haja quem as tenha esquecido, mas certamente não os professores que viram a sua carreira destruída pela ação política destas personagens que desconheciam o decoro mas sabiam perfeitamente o que estavam a fazer.
É verdade. O primeiro governo de José Sócrates constitui-se como o maior rolo compressor deste século no sentido do esmagamento da carreira docente. Servido, ainda por cima, por personagens trauliteiras e indecorosas. Teve a resposta à altura, por parte da classe docente, através das maiores manifestações de sempre de qualquer grupo profissional, das quais resultaram, inclusivamente, consequências pesadas no plano político para o Partido Socialista. José Sócrates, aliás, intuiu isso mesmo a menos de um mês das eleições de 2009 quando, em declarações à RTP, no início de setembro desse ano, reconhecia, não a sua política de terra queimada relativamente à Escola Pública e à classe docente, mas o modo como ela tinha sido posta em prática, ao salientar que “talvez não tivesse havido suficiente delicadeza na relação com os professores”.

É verdade também que à exceção do primeiro governo de José Sócrates, não houve nunca este nível de ódio mesquinho, visceral e de pequenez mental por parte dos agentes políticos relativamente à classe que se constitui como o pilar essencial da Escola Pública, os docentes. Já quanto ao seu reconhecimento profissional, à dignificação da sua carreira e à melhoria das suas condições de trabalho a ação dos governos em mais de década e meia tem sido lamentável.
Por isso, os professores estão hoje de novo em luta, empenhados em vencer. É a sua própria dignidade e a dignidade da sua profissão que a isso os obrigam!