Cativações
Há uns anos atrás, numa reportagem televisiva em Angola, um jovem de 13 ou 14 anos, indigente e órfão de guerra, menino da rua, perguntado sobre o futuro do pais, respondeu "não acredito, há muitas ambições".
Referia-se às ambições pessoais dos líderes Angolanos e entendia-as como incompatíveis com o progresso da nação. Do centro da rua, onde corre o mundo todo, o menino já tinha percebido tudo.
Por cá, deve ser lido com sotaque africano, temos as cativações pá!
Segundo o "Observador" desta semana, o valor das famosas cativações atingiu, em 2016, mais de mil milhões de euros.
Assim, ao que parece, se explica o deficit mais baixo da democracia.
O resultado, em termos das contas do Estado e para europeu ver, até nem foi mau, só que deixou marcas inegáveis de degradação dos serviços que competem, até às próximas privatizações ou PPP pelo menos, ao Estado Português.
Note-se que não estou a aproveitar o SIRESP nem Tancos, que, sendo situações muito graves e reveladoras do que acabamos de questionar, não comprometem o futuro dos Portugueses.
O problema é que, neste contexto, com estas "espertezas", a Saúde e a Educação, entre muitas outras áreas da competência do Estado, degradar-se-ão de forma indelével, com consequências muito graves para o futuro, agora sim, de todos os Portugueses.
Será que as cativações terão para nós o mesmo peso que as "ambições" revelaram ter para o povo Angolano?
Será que nos livram do procedimento por défice excessivo e nos condenam a viver excessivamente em défice de dignidade e de qualidade de vida?
Ricardo Furtado